A história de um ex-"Ilhado" por projeto de aeroporto

Entrevistei certa vez o agricultor Braz de Assis Pereira, uma figura humana sui generis, proprietário de uma área de 4,5 hectares de terra às margens do rio Doce, no distrito de Revés do Belém. Foi em meados de novembro de 2008, quando ele mostrou me os marcos fincados na área onde seria construído o novo aeroporto da Usiminas. Era um projeto faraônico, um aeroporto de porte internacional no meio do nada, há quase 40 km do centro de Ipatinga. O projeto fracassou e hoje Braz respira aliviado. Entenda por que nessa resenha. O fotógrafo Wolmer Ezequiel, o Braz, eu e Fernando Carvalho na incursão na mata em Revés do Belém.

Na época Braz disse que embora tivesse visto aviões de grande porte a fazer voos rasantes na área, homens com equipamentos “estranhos” no local, ainda não tinha sido procurado por quem quer que seja e não sabia até quando continuaria com a sua roça, onde planta banana, milho e feijão.

Pelo projeto apresentado pela Usiminas na época, as terras às margens do rio Doce na divisa com a área do aeroporto, em um local conhecido como Barrinha, seriam todas transformadas em região de amortecimento de impactos ambientais, com um plano de reflorestamento com espécies nativas. La no meio estava a roça do intrépido Braz.

A medida era uma das condicionantes para reduzir os impactos do aeroporto sobre reserva do Parque Estadual do Rio Doce, que fica do outro lado do rio, ha 500 metros de distância de onde Braz cultiva a sua roça.

“Aqui, eu colho 20 carros de milho. É uma área de alta produtividade. Toda a margem do rio Doce é de terras muito férteis”, contou Braz.

Vi no chão milhares de pequenos buracos. Braz explicou que na tarde anterior houvera uma revoada de tanajuras e os tatus saíram à procura dos insetos, que cavam a terra assim que pousam. Teiús enormes, capivaras, pacas, jacus e tantos outros animais que habitam a Mata Atlântica encontraram na roça de Braz uma grande fonte de alimentos.

“Mas eu não caço nada. Respeito a lei e aqui ninguém entra para caçar. Acho que todos já entenderam que isso dá cadeia”, conclui o roceiro Braz de Assis Pereira, enquanto ofereceu acerolas colhidas no pomar e reclamou do atraso na chuva que prejudicava a então recente plantação de milho que, mesmo na seca, insistia em crescer.

Hoje, Braz respira aliviado. O aeroporto não vai mais para Revés do Belém. Lá permanecem a roça do Braz, os bichos e o silêncio do Rio Doce que naquelas proximidades passa mansamente.

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