Vale a pena ser jornalista

Encontrei-me esta semana com o advogado Jayme Rezende no Fórum Valéria Vieira Alves, em Ipatinga. O nobre causídico contou-me que perdeu o número de ligações que recebeu em função do caso Airton. Rezende teve um papel fundamental no desenrolar de uma trama, ao sugerir ao jornal em que trabalho a pauta do caso.

Trata-se do caso de um mecânico septuagenário de Ipatinga, que por um descuido bobo, com uma açao trabalhista, cujo valor inicial era de R$ 5 mil, perdeu um patrimônio avaliado em quase R$ 1 milhão em pouco mais de uma década, com a penhora de todos os seus bens.

O seu Airton só recuperou a casa que mora com a mulher, filhos e netos porque uns três advogados, entre eles o Jayme, deflagraram um trabalho pela revisão do caso.

E foi justamente o Jayme Rezende que numa tarde quente, sem grandes pautas interessantes ligou me para informar desse caso e alertar que sua eventual divulgação poderia representar uma ajuda ao mecânico.

Com uma câmera a tiracolo fui à casa do personagem dessa história. Encontrei o seu Airton a preparar a mudança, pois o oficial de justiça o notificara no começo de 2009 que deveria deixar a casa em 24 horas para os arrematantes.

Note-se que o mecânico já tinha perdido sua oficina, um galpão e outra casa por causa da malfadada ação trabalhista, permeada por visíveis falhas de advogados que atuaram no processo por onze longos anos, oficiais de jurtiça pouco éticos e juizes interessados apenas no cumprimento gélido da lei. 

Um mês depois de publicada a reportagem, em março de 2009 outro profissional, o advogado Mauro Lúcio, que tinha lido a reportagem decidiu recorrer e conseguiu recuperar a casa para o mecânico, em um trabalho de boa ação, pois o mecânico, falido, não tem um tostão para custear os honorários do recurso que precisou ser interposto em tempo recorde.

Mas o pontapé foi dado pelo Jayme, que entendeu por bem tornar o caso publico por meio de reportagem que por acaso caiu na minha mesa em uma ligação telefônica. Lembro-me que a matéria quase não saiu e os editores no dia só a colocaram no ultimo momento porque o dia estava mesmo fraco de assuntos diversos. Deu no que deu.

Um pai de família, cansado pelo tempo e maltratado pelo desgaste de um processo judicial penoso, teve garantida a sua moradia. O trabalhador recebeu seus recursos reclamados devidamente corrigidos e nós estamos com um sentimento de missão cumprida.  

Comentários

  1. Num casos desses, certamente vale a pena o diploma obtido ao longo de quatro anos na faculdade. Pena é o cotidiano do repórter, que verifica a cada dia os contratos que engordam cada vez mais os bolsos dos empresários da comunicação, quando, ao mesmo tempo, a opressão e a falta de liberdade imperam nas redações.

    ResponderExcluir
  2. Caro BTZ, você tem razão. Diante de realidade como essa que você relata é preciso conhecimento e sabedoria para "navegar nas brechas do poder". Atuar como jornalista em tempos imperiais de parcerias é fazer viagem em uma nau, em mar bravio e cheio de rochedos. Todos a bordo dessa zona!

    ResponderExcluir

Postar um comentário