O traira e uma fita que mudou rumos

Certa vez um cidadão que se passava por locutor de rádio, mas que na prática era um exímio "colaborador" da polícia, seja ela militar, civil, federal, rodoviária ou ferroviária, caiu numa fria ao articular mais uma "puxada".

O ano era 1997, quando o tal locutor surrupiou do setor de gravação da Rádio Itatiaia Vale do Aço uma fita cassete com reportagem feita para denunciar abuso policial a preso na antiga masmorra, como era chamada a cadeia de Coronel Fabriciano. 

O tempo passou, direitos e deveres evoluiram, mas os comportamentos humanos não. Basta ver as manchetes, que essa semana trazem justamente um caso de abuso de poder em presídio de Fabriciano, casos que coincidem com outros ainda mais cabeludos nos bastidores das redações na região.

Mas aquele locutor, reconhecido por empostar a voz até para falar com cachorro nas ruas, entregou nas mãos do delegado o material que era propriedade da empresa de rádio  em que trabalhava, na tentativa de ganhar pontos com o delegado e ferrar o jornalista que trabalhava com ele. 

Descontrolado, o delegado telefonou para o jornalista e o chamou à repartição. Já existia celular e, por coincidência o jornalista estava próximo da delegacia, apurando  outras falcatruas. Enquanto falava com o delegado, o repórter aproximava-se da delegacia, na rua Alberto Schalet.

Do outro lado da linha o delegado, aos berros, ameaçava matar o jornalista e anunciava providências pessoais por causa da reportagem. O jornalista chegou rapidamente e flagrou o locutor ainda na mesa do delegado, preparando-se para ir embora. 

Foi um quiproquó danado. O caso foi parar na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, na Comissão de Direitos Humanos, a rádio CBN e a TV Bandeirantes colocaram o caso no ar, o  repórter foi chamado para depor na corregedoria da PC em Belo Horizonte, o Sindicato dos Jornalistas, na época presidido por Geraldo Melo támbém atuou no caso e pouco tempo depois o boquirroto estava fora da rádio, em um processo acelerado de aposentadoria. 

O delegado foi transferido, o preso torturado atendido em outra instituição penal e o jornalista com um ar de dever cumprido, ainda teria outros embates pela frente, já calejado de tanta paulada para cumprir o seu papel, embora já tenha pensado várias vezes em passar a revender água e refrigetante. 

Comentários

  1. Será que o dito cujo é o jurássico Leôncio Corrêa? Ainda temos trogloditas idênticos no rádio do Vale do Aço.

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