Sociedade do silêncio

Pode parecer um discurso repetido, mas é preciso retomar essa discussão sobre o direito da expressão da opinião ou do direito de narrar, alertar, denunciar e pedir solução das distorções do corpo social.

Vejam que em pleno fim da primeira década do século XXI esse direito fundamental está mais ameaçado do que nunca.

Não bastassem as constantes investidas de grupos do Congresso Nacional e do próprio governo em limitar promotores de Justiça, juizes e jornalistas em se expressar, a própria sociedade fica sob efeitos dos grupos de poder político e, consequetemente, do poder econômico.

Digo isso por causa de uma experiência que vivo atualmente, no gerenciamento do site do jornal em que trabalho. Lá foi aberto recentemente um recurso interativo para que os leitores façam comentários sobre determinadas notícias. 

Um dos critérios de acesso ao espaço para comentários é que o leitor identifique-se para postar o comentário. Entendia-se que abrir comentários para o anonimato colocaria a empresa em risco, mas isso inclusive deverá ser repensado.

No atual modelo, em que o leitor é obrigado a se identificar, só na semana passada recebi três telefonemas, de leitores que postaram comentários e, aparentemente, foram coagidos por causa disso, pois pediram que eu retirasse os comentários. Todos disseram que os comentários "estavam causando problemas" para eles, sem contudo detalhar quais tipos de problemas. Os comentários não eram ofensivos, não eram denúncias vazias, mas apenas opiniões pessoais sobre fatos diversos.

Manda quem pode, obedece quem tem juizo, já diz esse desgastado bordão, mais válido do que nunca nos dias de hoje.

O que não se pode é aceitar essa coação da opinião das pessoas como uma normalidade. Quando direitos fundamentais, como moradia, alimentação, educação e saúde (mais do que elementares) são atropelados por qualquer tipo de poder é preciso repensar o nosso papel de cidadão.

Agora, quando até a subjetividade é alvo da coação dos grupos de poder, então podemos concluir que estamos é no meio de uma crise, uma didatura. Embora permeado pelo pessimismo esse texto é pretencioso mesmo no sentido de alertar sobre o que poderia ser classificada como uma distorção social.

E não é por menos. Numa sociedade em que se instalam câmeras de vigilância eletrônica pelas ruas e o povo bate palmas, entendemos que vivemos mesmo em uma época sem direitos individuais, privativos, sem opinião. Até quando?
Imagem: freedomhouse.org


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