Abrigo

Foto: Andreia Klein.

Ha alguns dias, em raro momento de descanso, andava pela Serra do Caparaó, quando encontrei com esse abrigo em um dos muitos campos de altitude na serra.

Foi por aqui que nos anos 60 um grupo de guerilheiros ensaiou uma das muitas lutas armadas contra a ditadura militar.

Esse grupo, desprovido da logística que empreitada de tal monta exigia, acabou "morto" de fome e de frio, castigado pela rudeza desse lugar belo e ao mesmo tempo inóspito. Aqui a temperatura chega facilmente a zero grau centígrado.

Em 1º de abril de 1967 os guerrilheiros foram capturados, numa emboscada organizada pela PM de Manhuaçu. Além da natureza, os militantes tiveram como inimigos os camponeses, a maioria evangélica de antepassados europeus (alemães, italianos e suiços), que a partir do século XVIII ocuparam aquelas terras. Arredios e conservadores, os habitantes do lugar não encamparam a ideia da luta armada.

O movimento contra o regime totalitário da época foi, portanto, sufocado. Foi uma resistência natimorta, oriunda da cabeça de alguém que queria imitar aqui a Sierra Maestra, em Cuba, quando um grupo bem articulado fez crescer o movimento que culminou com a turma de Fidel Castro no poder, após derrubar a ditadura de Fulgêncio Batista. No caso do Caparaó, pelo menos pode-se dizer que alguém não ficou de braços cruzados a resmungar impropérios contra a ditadura, sem nada fazer.

No dia em que foram presos os guerrilheiros, o Exército brasileiro ainda bombardeou a serra, na tentativa de desentocar os "inimigos do Estado". Abrigos como esse sobreviveram às bombas.

Mas o que é triste é saber que alguém algum dia lutou por um País melhor, livre, democrático, sem saber que hoje nós seríamos livres para votarmos nessa gentalha que emporcalha a política brasileira. O nosso direito democrático, na prática, virou a coadunação com a mentira das urnas de dois em dois anos.

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