Hora de descer do mundo


Lembrei-me de um livreto de bolso que li faz tempo. O título era “O que é notícia?”, quase um complemento do “O que é jornalismo?” do jornalista Clóvis Rossi.

No mérito da primeira perqunta, notícia é o que o editor no exercício do poder disser que é.

Mas fora toda discussão acadêmica, prática e empírica sobre o que é, ou não, notícia, e a olhar como ummaisum do povo”, despido dos conhecimentos técnicos e no papel de leigo, concluo queassuntos tratados comonotícia dignos de deixar qualquer um boquiaberto.

Eis que numa tarde modorrenta a colega Marcele descobre na rede uma “notícia”  com o seguinte título. “Redetal (não farei propaganda aqui) muda posição do queijo em seus sanduíches a partir de 1° de julho.

Segundo a “notícia”, a tal rede de lanchonetes ouviu consumidores que solicitaram mudança por meio de redessociais.

Noticiavam assim que, a partir da data determinada o queijo cortado mudará de posição no preparo dos sanduíches em todas as suas unidades no Brasil.

E a “notíciadetalha:Com este novo procedimento, triângulos ou meias luas de queijo devem ser colocados no sanduíche milimetricamente, dessa maneira cada triângulo deverá ser posicionado intercaladamente”.

Segundo a empresa, a rede de lanches rápidos ouviu consumidores de todo o país que expuseram suas opiniõespor meio de redes sociais e fóruns de discussão na internet e espera que com este novo procedimento haja melhora na cobertura de queijo nos sanduíches e satisfação por parte de seus clientes.

“Puta que los paréu”, diria a Rosa Baiana, minha antiga vizinha, reconhecidamente uma bruxa sobre a qual se propagava fama de promover rezas bravas na calada da noite e a suspeita de ter matado o Eugênio, vizinhocasado por quem ela era apaixonada e, sem conseguir convencê-lo a largar a mulher, dera-lhe cachaça comrabo de lagartixa.  

o esperto João Matuto, que nunca fora à escola, mas sujeito que sempre soube deglutir gulosos nacos de queijo, sem nunca preocupar-se se o pedaço entrava pelo lado quadrado ou triangular, diria que o mundomoderno está perdido em futilidades.

E o notável poeta e jornalista itabirano, Carlos Drummond de Andrade diria quepedras no caminho de quemcom tamanha pequenez das coisas se ocupa

Agora, como jornalista, afirmo que se é esse tipo de informação que interessa às pessoas na atualidade, só posso pedir que parem o mundo na próxima estação. Eu quero descer

Foto: Alex Ferreira - Escultura de Anjela Ataíde em escola pública de Timóteo MG
Para o itabirano, Carlos Drummond de Andrade, há pedras no caminho da modernosidade 

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