Luta sem general

Jornalistas de todo o País lembram nesta quinta-feira (17) o erro do Supremo Tribunal Federal em dispensar a obrigatoriedade da formação acadêmica específica para o exercício profissional do jornalismo. 

Já estive no outro lado da trincheira. Fui jornalista sem diploma por 12 anos. Mas conviver com profissionais formados na área, já no Vale do Aço, me fez enxergar que desde meu ingresso na profissão, no finado "Gazeta do Caparaó" no fim dos anos 80, passando pela extinta rádio Catuaí, em Manhuaçu, e a Itatiaia Vale do Aço a partir de 1995, havia ainda muita coisa a aprender. 

Não me acomodei. Matriculei-me e plantei os glúteos em banco de faculdade por quatro longos e penosos anos. Valeu a pena cada centavo pago e cada minuto de aula. 

No meio dessa trajetória ví de tudo. De gente que inventava notícia a tentativas de manipulação da verdade e da opinião até a pequenez de gente que só fala na primeira pessoa do singular e se sente mais importantes do que o meio. 

Convivi e convivo com gente que faz uma entrevista e logo a seguir saca um talão de contrato de publicidade. Na luta contra a boquirrotice só posso concluir que o pior jornalista é sempre aquele que se submente ao sistema estabelecido sem ter noção disso. 

Faço minhas as palavras do colega de profissão, Hermes Quintão, que hoje cedo escreveu em um debate sobre o tema um belo texto, do qual  publico o excerto abaixo:

"... professores um tanto quanto utópicos, mas que acreditam e propagam a comunicação como ciência de transformação e elevação de uma sociedade perdem importância gradativamente; cedendo lugar à velha prática que há séculos é moldada por uma elite podre e jurássica que insiste em guiar os cidadãos por meio da informação, tal qual um vaqueiro guia um rebanho de gado.

Enfim, a morte do diploma atende aos interesses e a uma ideologia reinante junto aos donos da grande mídia, atordoados há algum tempo por gerações de profissionais; de jornalistas diplomados por pressão de sindicatos, que em sua boa parte, se mostram mais contestadores que a média, por tentarem aplicar um método científico na prática do dia-a-dia - embora nem sempre consigam por causa da força invisível do 'establishment' ". 

Imagem da web
Jornalistas já morreram sobre máquinas rudes como essa. Profissão saiu do saudosismo boêmio para uma discussão onírica no século XXI.

Pois é, Hermes. Essa é uma luta sem generais, com implicações muito mais profundas do que aparenta na realidade. Os interesses são muito maiores e os que insistem em dizer que exigir formação de jornalista é reserva de mercado são, na prática, míopes sociais .

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