"Eu não quero parar"

Ah, o tempo, essa máquina de moer gente que passa rápido e nos faz escapar por entre os dedos oportunidades para avaliar mais detidamente a importância da pequenez das coisas ao nosso redor.

Preocupamo-nos demais em estudar teorias, nos qualificarmos para um mercado cada vez mais exigente, quando na verdade a qualidade é infinita. O simples, prático, direto e objetivo pode ter a mesma importância para alguns, quanto o sofisticado, moderno e perfeito para outros. Viva a subjetividade humana.

Esta semana, convidado para explicar para um grupo de crianças de 10 anos como se dá o trabalho numa redação de jornal, fui surpreendido pela insistência dos pequenos em saber como os jornalistas arrumam tantas notícias.

De forma rasa, pois não queria assustar as crianças com o pesadelo das ingerências e jogos do poder e de interesses escusos que circulam feito almas penadas as redações nessa atualidade, deti-me nas explicações sobre as reuniões de pauta em que se acerta o que será ou não publicado. Perguntas "choviam" de todos os lados. Quanta curiosidade!

No fim, um menino mirradinho, que não se dava por vencido com as explicações sobre possíveis saídas, num dia em que não tivesse nada para publicar, soltou essa: "Mas e se todos os jornalistas num dia passassem mal e ninguém fosse trabalhar? O chefe deles faria o jornal sozinho?".

A professora esbaforida já tratava de encontrar meio de calar o guri e eu por dentro morria de rir. Antes mesmo de inventar uma resposta bem humorada disse que há uma música "O dia em que a terra parou" e que só num dia assim não haveria jornal, pois não haveria o que publicar nem as máquinas do jornal iriam funcionar.

Uma menina irrequieta, não aguentou permanecer sentada. Levantou-se num pulo só, com ar de irritada e disse para o coleguinha: "Mas isso é impossível de acontecer. Eu não quero parar".

Tem razão a pequena guria. Parar pra quê, se nossa vida passa tão rápido? Parar pra que se nossa raça perambula há milhares de anos, exeperimenta da glória do paraiso à guerra e nós só temos como aproveitar uma fração desse tempo no mundo? 
Foto: Alex Ferreira
Imagem do topo da cachoeia "Véu de Noiva", no Parque das Cachoeiras em Ipatinga MG. Esse é um lugar para se pensar na grandeza e na pequenez das coisas.

Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. De que adianta ser raso com crianças capazes de perguntas e analogias tão profundas??? Creio que não teria a capacidade de ser tão bem humorada com os pequenos... De alguma forma, meus calos transpareceriam diante do "eu não quero parar"!
    Ah, prezado, que texto fantástico em estrutura e conteúdo!!! Que saudades da redação e das conversas sobre a vida a caminho da Pastelaria!

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