Sua excelência, o telefone

O cúmulo da falta de bom senso é preterir o atendimento presencial em função de uma chamada telefônica.

Ir pessoalmente não seria mais importante do telefonar? Na lógica da maioria das pessoas atender a uma ligação é mais importante do que concluir um assunto com quem está presente em corpo e alma.

É reconhecível que esse é um antigo dilema, pois uma ligação pode ser de um parente, à beira da morte. Ou o aviso de algo vai mudar a vida de alguém.

No entanto, nessa modernosidade, em que alguns levam o celular até para o banheiro, a maioria deixa de atender quem está presente para atender banalidades.

Tem gente que fala ao telefone enquanto faz caminhada. Outros falam de assuntos íntimos pelas ruas afora e outros, simplesmente ignoram a presença de alguém à sua espera para manter longos colóquios numa ligação.

Customização

A vantagem é que pelo telefone também se identificam personalidades. Sejam pelas cores ou pela música que se pode programar em um celular, permite-se perceber diferentes sujeitos no cotidiano.

Há um episódio inesquecível. Em horário de almoço em um restaurante, lembro-me de um amigo, sujeito intelectual, que dia desses estava de olhos espichados e queixo caído por causa uma morena que entrara no estabelecimento.

Curvilínea, voluptosa, a mulher era daquelas de mexer com a imaginação de Baco. Deixou sobre uma mesa bolsa, sua excelência, o celular e foi ao self-service. Voltava bamboeando, quando ao aproximar-e da mesa o telefone tocou. Um desencanto.

Foi engraçado ver a expressão de pavor do meu amigo intelectual ao perceber que a “deusa” inspiradora do horário do almoço gostava de ruído de funk no celular. “Deve ser uma maria chuteira. Que desperdício”, protestou. Sem mais nada falarmos pagamos a conta e fomos embora. Cada um faz do telefone o que quiser.

         

Almanaque Brasil

Comentários

  1. Alô, alô marciano, aqui quem fala é da Terra! Essa e outras modernosas "mudernidades" levam as pessoas para o mundo virtual ou da Lua. Em recente viagem de trem no trajeto BH/Ipatinga, uma jovem se "isolou" com um fone no ouvido e, mascando chicletes sem parar, repetia como papagaio: "saco, saco, saco...". Já outra garota, que veio curtindo a paisagem e puxou papo com outros passageitos, adorou a viagem e i fato de iniciar novas amizades

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  2. Pois é ... "Cada um faz do telefone o que quer, até desagradar e decepcionar as pessoas. boa, boa boa". Queria ver a cara do seu amigo diante do funk da gostosona. Abraço - Thiago

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