Chorumelas, modernidade e mudanças do século XXI

Os produtores de conteúdo informativo estão feito baratas tontas diante dos conceitos da comunicação no século XXI. Eles mal se adaptam a uma plataforma e já surge outra mais modernosa, tornando obsoleta a anterior que se julgava “o fino” do momento.

Cada qual tem uma opinião que julga absolutamente certa, ao analisar, na terça-feira, o fechamento da edição impressa do Jornal do Brasil, um dos mais importantes veículos da história do jornalismo brasileiro. Nada é absolutamente certo na vida, exceto a morte.

“A culpa é da internet”, simplificam alguns especialistas, ao analisar o fim da edição impressa do JB, anunciada há três meses. Esse lamentável ganhou reportagens especiais até nos antes concorrentes, inclusive o sisudo “O Globo”. De certa forma, se repetiu aquele velho conceito: depois de morto, ate vilão vira santo...

O filósofo francês Edgar Morin, em 1990, no livro “Para sair do século XX”, já preconizava as mudanças pelas quais a comunicação passaria nessa primeira década do terceiro milênio.



Mas além das novas mídias que surgiram como fortes concorrentes dos meios convencionais, há outras motivações mais profundas, sobre as quais talvez esse nem seja o fórum ideal para o debate, dada a sua complexidade.

Mas Morin aponta um caminho interessante ao analisar o fin de siècle, em que as pessoas não querem apenas receber, mas também exigem participar. É uma condicionante para o indivíduo do novo milênio permanecer ou não em uma situação. Morin usa fin de siècle o tempo todo porque essa expressão em francês significa tanto encerramento quanto o início de uma era.

Acontece isso com os jornais. Na medida em que o leitor se sente fora do contexto da produção e tem meios alternativos para checar as informações, como os sites oficiais, resultados de auditorias, conferência em tempo real de eventos, ele naturalmente deixa de dar credibilidade aos veículos que não cumprem a cartilha da interatividade e do fiel compromisso com a verdade.

Contam que o JB impresso morreu aos poucos – e essa versão parece bastante próxima da realidade - quando os seus novos donos, confiantes na história e na credibilidade conquistada pelo diário junto à sociedade, não atentaram para as novas possibilidades e necessidades da comunicação. O resultado dessa alienação foi fatal e chegou a um ponto em que as vendas do impresso não compensavam mais sua publicação, o que determinou a decisão da publicação somente no online.

Ao debater o assunto essa semana no twitter, o jornalista Luis Nassif falou de vários pontos da mudança na comunicação:

- As empresas vão ser produtoras das suas notícias, criando suas agências de notícias. Na prática, grande parte delas já criou isso.

- Hoje há blogs que têm o mesmo peso que os jornais. Existe um público órfão dos jornais.

- O que mais segue as regras do jornalismo é o Estadão, apesar de dar umas escorregadas. Quando você pega Folha, Veja, e O Globo, você não tem jornalismo.
- O problema dos jornais brasileiros é que eles perderam a noção de jornalismo.

Na esteira dessa triste realidade dos jornais vão também a televisão, na maioria dos casos repetidoras de ‘vídeos da internet’ e as rádios, onde é mais fácil levar os ouvintes a responder perguntinhas idiotas em troca de prêmios chinfrins do que debater o que realmente interessa do ponto de vista social, econômico e político.

Quando trabalhava no rádio, havia internamente aqueles que destilavam críticas à política de elaborar pautas voltadas à participação popular em qualquer assunto a ser levado ao ar pelo Departamento de Jornalismo. Classificavam isso de “jornalismo acadêmico”.



Prefiro não entrar no mérito por uma questão de respeito à liberdade de opinião, mas só quero lembrar os índices de audiência, que despencaram.

Em Ipatinga, por exemplo, pesquisa cuja cópia tenho em mãos, mostra índice de 4% em abril deste ano, contra 30% da mesma época em 2006, quando se praticava o “jornalismo acadêmico”. Esse é o fin de siècle da comunicação.

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