Que língua danada

Dia desses escrevia para esse minifúndio cibernético quando o professeur João Senna chamou-me atenção. “Igapó, não é binga de cigarro, é guimba”.

Era uma referência sobre a seca de inverno 2010 na seguinte frase: “Basta que algum sem-serviço lance uma binga de cigarro à beira da estrada e tudo vira cinzas em minutos”.

Pelo sim, pelo não, fui lá no texto e inseri o termo “guimba”, que se supunha ser o correto na frase.

Mas a matutar longamente sobre o assunto conclui que na Zona da Mata mineira, onde fui criado as pessoas chamam mesmo de “binga” o toco de cigarro.

Fui ao Houais e lá no dicionário estava a confirmação. Binga é o toco de uma coisa que não presta, merda, ponta de chifre, lasca de pedra, por extensão é também o toco de cigarro.

Igualmente está correto o termo guimba. Segundo o dicionário Houais, guimba é a parte restante de um charuto, cigarro ou baseado já fumado.

Que ingrata essa língua! Mas vamos respeitar as construções linguísticas e os sentidos atribuidos às palavras pelas pessoas de acordo com suas realidades. 

Bakhtin: Teorias para além do seu tempo histórico sobre a construção social e cultural da linguagem

Neste contexto, importante suscitar aqui o que escreveu o filósofo do discurso, Mikhail  Bakhtin, para quem  "a língua materna, seu vocabulário e sua estrutura gramatical, não conhecemos por meio de dicionários ou manuais de gramática, mas graças aos enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos na comunicação efetiva com as pessoas que nos rodeiam".

Comentários

  1. Uai, aqui em Ubá falamos guimba de cigarro.

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  2. Caro anônimo, deveras. Na Zona da Mata se usam os dois termos.

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