Calor de rachar, ducha e goles


Passei o domingo no prosaico bairro Petrópolis. Lá, com o Edmar Moreira, radialista aposentado dos microfones, ri às pampas com histórias entremeadas por fartos goles, moqueca baiana e duchas para espantar o calor.

O Edmar vem de outra época no Vale do Aço, em que as pessoas estavam preocupadas com o sentimento de pertencer a uma região importante. E lutavam pelo crescimento regional.

Projetos pessoais, carreiristas já eram uma realidade, mas não o motivo norteador de toda e qualquer ação, como é hoje.

Incrédulo acerca das possibilidades de mudanças do quadro de instabilidade que assola a região e absoluta falta de projetos de interesse regional, o radialista vê os dias passar nas três grotas e sente saudade do tempo em que havia ideologia.

“E o João Senna (o chefe de redação do Diário do Aço em Ipatinga) precisa colocar isso nos seus artigos. Ele é testemunha do tempo em que se pensava diferente e os resultados apareciam”, ainda disse esperançoso.

Enquanto aguarda sair do forno o seu livro, “O homem de chifres”, o radialista relembra os momentos bons e ruins de sua trajetória entrecortada por fatos pitorescos.

Eu cá, também há muito longe do microfone que não me sustentava mais, ainda me lembro de um dos primeiros ensinamentos, quando conheci o Edmar em 1995. Foi naquele ano que, franzino, mirrado e desconfiado desembarquei nas barrancas direitas do rio Piracicaba para ser repórter da então filial da Rede Itatiaia de Rádio, no Vale do Aço.

Naquela época, a bordo de um VW Fusca amarelo, 1978, a caminho de Santana do Alfié, o Edmar me alertou:   “Para ser um bom profissional você precisa conhecer bem a cultura desse povo”.


Passados tantos anos e após esta visita para relembrar fatos, voltava para Ipatinga e  foi impossível não parar e fotografar a lua cheia, que insistia em esconder-se atrás das nuvens, mas que por momentos breves mostrava-se radiante. Como a vida, em momentos bela, em outros nem tanto.
Fotos: Alex Ferreira

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