Identificação imediata


Está em exposição em Belo Horizonte (pena que a precariedade da BR-381 nos distancie tanto da capital), o trabalho de 23 artistas plásticos. Em “A arte da gambiarra” os autores mostram como o descarte da sociedade pós-industrial se relaciona com o momento histórico contemporâneo. É uma reunião exclusiva de “gambiólogos”.

Na história da arte, sempre houve o registro de pessoas que fizeram coisas com materiais precários, coisas do próprio tempo, diz o artista plástico Fred Paulino.

O que o artista esqueceu-se de dizer é que na vida prática nós brasileiros adoramos uma gambiarra. A arte do improviso é propícia do brasileiro, às vezes preguiçoso em ir a uma loja de ferramentas, parafusos ou elétrica e comprar aquela peça que resolveria de forma correta um gargalo qualquer.

Mas a mostra tem um conceito bem menos antropológico das adoráveis gambiarras. Ela quer levar as pessoas a pensar o que será feito com os resíduos industriais e o lixo eletrônico. Tanto, que logo na entrada o visitante tem que pisar em teclados velhos de computadores obsoletos.

A discussão ganha peso diante de uma realidade incontestável: a cada mês surge uma novidade eletrônica que transforma em lixo o que até ontem era símbolo de moderno ou arrojado. Estamos no liminar da superficialidade, com telefones “MP-39 funções” e outra traquitanas que seus próprios donos desconhecem para que servem.

Ninguém mais quer os televisores de tubos RCT, pois todos agora querem os televisores com telas de LCDs ou LED. A propósito, aqui no escritório em casa tem uma enceradeira que não sei o que fazer com ela. Depois da cera líquida autobrilho ela virou um elefante branco. E ali, numa rua ao lado o dono de uma eletrônica insiste em jogar na calçada uma montanha de monitores de RCT que ninguém quer e o serviço de limpeza também não pega. Suponho que os www.gambiologos.com terão muita matéria prima pelos próximos anos.

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