No limiar da negligência


Impossível ficar insensível diante de determinadas notícias. Não que elas sejam inéditas, mas a repetição de casos que se transformam em tragédias para algumas famílias deve ser alvo de uma reflexão, por todos nós.

Casos como o segundo ataque de cães Pit Bull no Vale do Aço, o mais recente deles com a morte de uma mulher em Coronel Fabriciano, mãe do próprio dono dos cães, o motorista intolerante que atropelou ciclistas durante protesto contra o uso de carros em Porto Alegre e o acidente com a serpentina metalizada, em Bandeira do Sul, Minas, com a morte de dezenas de pessoas e outros tantos feridos gravemente, mostram que não estamos muito bem.

Certa vez entrevistei a pediatra do Hospital Márcio Cunha, Vera Gaspar, e ela deu uma aula sobre a questão da prevenção dos acidentes domésticos com crianças. A médica recusa-se a chamar de fatalidade determinados acidentes com os pequenos, porque entende que todo acidente é prevenível.

Prevenção, para o caso do cão no bairro Quintandinha, Timóteo, que atacou na semana passada os próprios parentes que visitavam a casa seria deixar os cães permanentemente amarrados.

Prevenção no caso do cão que matou a mulher em Fabriciano era manter o bicho numa jaula. Prevenção no caso dos ciclistas, no Rio Grande do Sul, era ter chamado a polícia para dar apoio à manifestação pacífica.
Foto: Adriano Vizoni/Folhapress
Grupo protestou contra atropelamentos na Avenida Paulista em SP 
Prevenção no caso de Bandeira do Sul era a empresa que vende a serpentina metalizada ter informado às concessionárias do serviço de energia que o material é condutor de energia e não poderia ser utilizado perto da rede elétrica. Será que no selo da embalagem havia esse alerta? Será que o produto tem selo? Ou entrou pelas fronteiras da ilegalidade oriunda da China?

Agora vêm os técnicos da Cemig dizer que não sabiam dos riscos potenciais da serpentina metalizada. Ora, até o mais lerdo sabe que papel metalizado é condutor de energia. O papel metalizado do maço de cigarros, por exemplo, pode ser usado como gambiarra para substituir fusível queimado.

E vejam que essa discussão de risco com a serpentina metalizada surge depois que no fim do ano milhares de pessoas utilizaram rojões e bazucas para lançar esse tipo de material nas comemorações do revèillon.

Então é disso que falo. A prevenção não é feita e vez ou outra nos deparamos com as tragédias anunciadas. Ainda bem que somos capazes de nos surpreendermos com elas

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