Casa de ferreiro, espeto de pau

Ainda plantava os glúteos nos bancos da faculdade, há uns seis anos, quando um diretor do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais (SJPMG) telefonou-me com um pedido de nomes que poderiam formar uma comissão pró-organização da classe no Vale do Aço. 

Nessa época eu trabalhava no rádio, onde o salário é de fome e  a carga de trabalho, hercúlea!.  Meu caso podia até ser uma exceção porque era empregado velho de casa e ocupava cargo de confiança, recebendo por isso extras por acúmulo de função. Mas  o diretor do diretor do SJPMG afirmava que um levantamento sobre os jornalistas no Vale do Aço apontava a necessidade de organização da classe sob risco de, em pouco tempo, o mercado de trabalho para estes profissionais entrar em um estado de deteriorização tão grande que seria inviável exercer a atividade por aqui.

Bobo, e esperançoso que sou, encampei a ideia com o colega William de Paula e alguns poucos gatos pingados da sala de aula,  onde a maioria desconfiava que sindicato é coisa de baderneiro grevista - conceito que reina  principalmente entre aqueles  vindos das classes mais abastadas. 

Naquela época, o SJPMG avaliava que era preciso mobilizar estudantes de comunicação e também os profissionais para a organização da classe. Na faculdade, havia professores muito mais interessados em "viajar", ou discutir o "sexo dos anjos barrocos"  e criticar o  padrão que vigora na mídia brasileira do que  interessados na realidade do mercado. Tanto que formaram atores, cineastas,  vendedores de loja demais e jornalistas de menos.

Mais decepcionante ainda foi entre a classe. Perdidos em seus mundinhos os colegas não quiseram saber. Um deles, "velho de guerra", chegou ao absurdo de afirmar: "Esse Alex quer apenas aparecer". Outro disse exatamente isso: "Alex, estou coupado demais para preocupar-me  com esse negócio de reunião de classe". 

E assim o movimento iniciado foi abaixo. Passados seis anos dessa tentativa fracassada  o resultado é esse: a maioria dos colegas em atividade recebe salários miseráveis que sequer atendem ao piso minimo da categoria. Muitos  nem  sabem que existe um piso salarial. Por ironia do destino, jornalista é o profissional que mais fala em sindicato. Dos metalúrgicos, dos professores, dos médicos, dos contabilistas, dos eletricitários, dos motoristas, dos mototaxistas e até das putas. E vão se arrumando daqui e dali, com  complementos salariais medíocres. Em casa de ferreiro, o espeto é de pau.

Mas nesse ramo surpresas não faltam mesmo. Eis que me chega pelo email correspondência do colega Wellington Fred, informando que a prefeitura de Guaratinguetá, no nordeste paulista, acaba de lançar edital com duas vagas para jornalista. Salário? R$ 545,00. Isso mesmo, um piso salarial mínimo, conforme edital.

O mais incrivel está por vir: O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo decidiu entrar com mandado de segurança para suspender o concurso público até que correções sejam efetuadas. No entanto, a prefeitura informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não pretende alterar o edital do concurso. No interior de São Paulo o piso salarial de jornalista é de R$ 1.593 em 2011.

Comentários

  1. É amigo. Desistir? Jamais, nao é mesmo?
    Ass. Anne

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  2. Pois é jovem, assunto complicado este, principalmente quando se trata de um sindicato pelego igual esse da nossa categoria. Eu mesmo fiz no mínimo umas seis ou sete denúncias sobre alguns devezemquandário que circulam pela região e nunca recebi sequer um e-mail ao menos informando que minhas denúncias foram recebidas.

    Soma-se a esta questão o fato de que quando representantes do sindicato vem à região, na maioria das vezes é para fazer campanha de filiação para arrecadar mensalidades. Infelizmente tudo isso nos faz desacreditar um pouco no SJPMG, ao contrário dos sindicatos das demais categorias que conforme você mesmo disse, tanto são cobertos por nós, e que na pratica vemos resultados de suas lutas.

    Lembro de uma reunião que participei uma vez com representantes do SJPMG, quando o Presidente se não me engano ainda era o Aloísio (é isso mesmo?). Nesta época eu trabalhava na Rádio e ainda cursava a faculdade de Comunicação, naquela ocasião fiz uma pergunta exatamente sobe está questão da ausência do sindicato aqui na RMVA, é a resposta que eu tive é que eu tinha que dar graças a Deus exatamente por não ter uma subsede do SJPMG aqui, senão eu não estaria trabalhando e o veículo ainda seria multado.

    Mas o seu texto está mais do que claro, nestes sete anos na área da comunicação acho que vi pelo menos umas duas vezes um movimento começar a caminhar e despencar sem ao menos conseguir se equilibrar.

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  3. Jovem, o sindicato, se pelego for, também representa uma classe pouco afeita à união. somos um tipo de profissional individualista. dai vem alguns dos problemas mais crônicos da classe.

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