Como num filme de Annaud


Não há nada pior do que uma reunião de trabalho na segunda-feira de manhã, em que serão colocados na mesa problemas que normalmente nem uma semana de muito esforço é suficiente para o encontro de uma solução plausível.

Ou melhor, tem coisa pior sim. Parado no semáforo do cruzamento da Macapá com a rua Fortaleza esta semana vi uma cena que me fez pensar que há solução para tudo, menos contra a morte, que é absolutamente insanável. 

Pois no meio das divagações eis que vejo de cócoras no canteiro central, bem ao lado da janela do carro, um homem de aparentes 40 anos. Certamente ele não tem mais do que 30, mas aparenta bem mais dada a rudeza das ruas onde vive.
Reprodução de "A Guerra do Fogo"  
Feito um personagem saído direto da tela de Jean-Jacques Annaud, aquele ser humano ali executava um gesto contínuo de enfiar a mão em uma sacola de lixo e levar à boca os restos de alimentos que de lá retirava. Mastigava freneticamente e o alimento amarelo que recolhida era rapidamente engolido. Fui estimulado ao  recuo imaginário a um tempo absurdamente remoto em que os homens 10.000 a.c. viviam como aquele sujeito ali, em absoluto estado de natureza.

O 1,30 minuto que o sinal demorou para abrir me pareceu uma eternidade. Um filme relâmpago da vida passou em minha mente. Arranquei o carro sem pressa, minutos depois entrei para reunião, ouvi propostas, apresentei sugestões e resolvi as pendências todas esta semana. A vida é muito cruel. 

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