Os desplugados

Entre as coisas que um jornalista mais consulta na labuta diária estão o relógio e o calendário. É contra ele que o comunicador trava a primeira luta, da hora em que acorda até a hora em que sai da redação.
Jornalista de rádio e TV olham o relógio a cada 10 minutos, em média. Quem não olha faz que nem uma noticiarista que trabalhava comigo e, certo dia, entretida ao telefone, esqueceu-se de entrar no ar com um noticiário.
Jornalista de impresso e agora, de web, precisa ficar antenado com o calendário, mais o relógio, mais um tanto de coisa.

Mas na ida ao exercício diário no Parque Ipanema, necessário para desopilar o cérebro, três mendigos caminham cambaleantes à minha frente nesta quarta-feira.

- Que dia é hoje mermo? – perguntou um.
- Sei não, respondeu outro na sequencia.
- Uai, é sexta-feira, ta ligado não?
- Até pensei que era segunda, contra argumentou.


Didgeridoo: Feito em madeira, até 2 metros de comprimento para produzir um só ruído: buuuuuuuuuummmmmmmmmmmmm

Desplugado II

Aquele dia era mesmo dos desligados do mundo. Mal fazia a primeira curva do Parque, em plena 07h30 um casal rolava na grama, certamente ainda molhada do orvalho da noite. Ao lado, uma bicicleta velha era voyeur daquele amor matinal.

Pensei que tinha visto coisa demais nesta manhã, quando no ¾ de volta encontro um músico. Não um tocador de violão, sanfona ou coisa parecida. Em posição de ioga, o sujeito tocava um didgeridoo, instrumento de sopro utilizado pelos aborígenes australianos. Assim, desplugado do mundo o sujeito curtia o “visu” enquanto assoprava.  Eu tentava uma concetração na caminhada sem pensar em nada. Não consegui.

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