Contra outra

Conheço uma pessoa, por quem tenho grande estima. Reservo para esse amigo imensa consideração. É um cidadão  apegado à ideologia franciscana  ou, mais apropriadamente, à lei da ação e reação, segundo a qual quanto mais se der a corda para um boquirroto, maiores as possibilidades de ele se enforcar.

E se enforca mesmo. Tem razão o amigo adepto do franciscanismo. Na mesma linha de pensamento, Acioli Neto em "A natureza das coisas" foi muito feliz ao dizer que "A natureza não tem pressa, segue seu compasso. Inexorávelmente chega lá".

Então se vê o enganador da fé pública, que construiu uma falsa imagem ao longo dos anos e a sustentou  a custa de um dinheiro que nunca fôra seu, vê seu castelo ruir em meio a um tsunami. Ao passar da onda só lhe restarão alguns poucos lambe-botas que dependiam de suas  migalhas. Os exemplos estão, esta semana, estampado nas páginas dos jornais. Essa é uma história repetida.

Pois ontem em uma rápida resenha sobre os fatos da semana avaliávamos a sucessão de escândalos dos homens públicos no Brasil. "Quer a pizza de que sabor?" questionou o amigo franciscano.

Argumento que uma margherita já exala no ar, mas pondero que o mais importante no resultado dessa sucessão de escândalos é a desconstrução da imagem imaculada de verdadeiros cupins da coisa pública. 

O problema é que nós, brasileiros, trocamos os cupins, mas não trocamos os móveis e a infestação parece interminável. Tanto que já deve existir por aí toda uma geração a acreditar que a corrupção, a improbidade e a falta de caráter na vida pública são normais. Mas não é.

Pior do que isso é ver aqueles que já estiveram de um lado do balcão, conhecem o processo, decidem que não lhes agrada e, com todo o direito  que lhes cabe,  vai para ou outro lado do balcão, desativa até os palanques (virtuais ou não) com seus discursos puritanos e tem a cara de pau  de ficar criticando quem decidiu permanecer na posição anterior.

Pois afirmo que é pura falácia e demagogia sentar-se na cadeira palaciana das assessorias (públicas e privadas) e vociferar contra quem  permanece a pular na frigideira diária de uma redação e toda sua complexidade que envolve desde a necessidade da pluralidade, julgo popular,  interesses de mercado e sustentabilidade. Será que é mais fácil sentar-se onde pensa-se um trono e falar? Falar é mais fácil do que fazer? Ora, contra outra.

Comentários