As verdades do Imperador de Sobral


Incrível. Todos os dias vejo cenas repetidas de uma espécie de "filme da vida real" em que não há mocinhos, só bandidos. Diante de uma  tal insistência em defender o interesse próprio em nome de uma pseudo moralidade da coisa pública, não resta saída senão lembrar de umas figuras insólitas.

Ciro Gomes, o "Imperador de Sobral", no Ceará, certa vez jogou a toalha em uma entrevista. "Tem um sistema implantado no Brasil que funciona da seguinte forma. Ou o político adere a ele e trata de sobreviver ou o enfrenta e vai se ver com as consequências do seu ato".

Outros que vêm à tona nesse jogo de cena são os sujeitos que, fora do poder encenam um papel de dublê de ovelha e, ao assumirem ainda que seja, um naco do poder, mostram sua verdadeira face de lobo. 

"Vem quente, trem, que tem uma espingarda à sua espera", costumava arranhar entre dentes o velho e desconfiado João Matuto. Analfabeto, Matuto era um sujeito que sabia como “tratar bem” um maquiavélico.  

E fazer assessoria na atualidade é muito fácil. O assessor pede para mandar por email até solicitação para confirmar em que rua fica e qual o número da Casa dos Conselhos. É a burocracia da burocracia. Se continuar nesse ritmo, não vai demorar muito e teremos algo assim:

- Alô, é do Samu?"
- É sim
- Minha mãe tá morrendo aqui.
- Quem está falando? Confirme o nome completo, CPF, Identidade, PIS, CNH, IP do seu computar, para prosseguir, senhor.
- Como?
- Sem isso o senhor não será atendido.
- Mas minha mãe tá morrendo.
- Repito:Atenda ao requerido no protocolo ou não será atendido.
- Ah, obrigado, mas minha mãe acabou de morrer e vou "estar ligando" pra funerária.
- Tenha uma ótima noite, senhor.

Ainda bem que no Samu tem gente inteligente, como o Norberto, entre tantos outros, que não deve deixar, jamais, isso acontecer por lá. Esperamos.

 Platão: Certamente não imaginava que as trevas do obscurantismo seriam tão difíceis de se extirpar
Mas não deve estar longe o tempo em que teremos de mandar email com aviso de agenda prévia de uma ligação para um assessor. "Informo que às 11h13m21s estarei ligando para falar com o senhor ... Na ligação tratarei dos seguintes assuntos... x, y,z, sendo que o w tem a ver com o j"

Aliás, há algum tempo, desde o governo Quintão (PMDB) em Ipatinga - isso era prática também no governo do PT, mas com menos intensidade - o assessor redescobriu a roda: Não precisava responder para a imprensa, mais nada que não fosse do seu interesse.

Era só ligar para o diretor ou coordenador de rádio, tv, site noticioso, jornal, rádio-patrulha, rádio operador, seja lá mais o que fosse e convencê-lo que o jornalista estava errado e a matéria não deveria ser publicada. Deu certo e a receita foi adequada a novos gostos. "Jornalista? Não precisa nem tratar bem. O negócio é ficarmos bem com os diretores. O resto é o resto", teria afirmado um prócere em reunião de secretariado iniciante de governo.

Ocorre que jornalista é multiplicador. Jornalista expressa opinião por meios diversos - não necessariamente onde trabalha. Quase sempre é instado, informalmente, nas rodas sociais dos lugares onde frequencia, a relatar os bastidores, aquilo que não sai publicado. Essa coisa tem um efeito multiplicador. O resultado dessa política desastrosa de comunicação, que se colhe aqui e acolá, não carece de explicações. Os fatos, por si só, dizem tudo.

Para encerrar, não sei se é para rir ou para chorar. Um amigo que mora em Belo Horizonte teclou no MSN, mesmo com o “ocupado” acionado no comunicador:

- “Fala campeão. Cara, decidi que vou trabalhar em Ipatinga”.
- Em que?, quis saber eu.
- Lavador de carros. Li hoje num jornal que tem profissional dessa área aí fechando contratados na casa dos R$ 6 milhões.
- Offline

Eu ein? Cada coisa que me aparece nesse Vale do Aço.

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