Para onde caminhamos?

Se há uma discussão apaixonante para o momento atual do jornalismo essa coisa é a temática do futuro dos meios, mergulhados numa crise sem precedentes com o surgimento de uma diversidade de fontes virtuais. É apaixonante para quem gosta de jornalismo, leva a reflexões, mas não a conclusões. Uma incerteza paira no ar.

Como o receptor sempre selecionou bem o que queria ler, assistir, ver ou ouvir – e agora interagir – ganhou como um prato cheio a diversidade de meios oficiais, ou extraoficiais, para checar as informações das quais precisa ou tem curiosidade.

Quer saber o resultado de um julgamento no Judiciário? A maioria está na rede. Quer ler uma ocorrência policial? Em muitas cidades, isso já está disponível na rede. Quanto custou a compra da merenda escolar da prefeitura no mês passado? Quanto o seu vereador gastou em diárias de viagens? O Portal da Transparência tem isso. Ou pelo menos deveria ter.

Ainda me lembro do tempo em que meu avô corria ao rádio quando saíam os resultados da loteria (nem sei se jogava, mas ele gostava de saber dos números). Se perdesse aquele momento em que o locutor dava os resultados, só teria chance de sabê-los se fosse a uma agência lotérica.

Pois João Olavo não imaginava que num futuro nem tão distante assim de seu tempo, ao toque de dedos teria – como hoje – resultados de qualquer jogo e ainda projeções, estudos sobre os números que mais saem e menos saem. Costumo brincar que a era da informação virtual é um banquete. O cidadão de nosso tempo tem o livre arbítrio de entrar e fartar-se. Ou, então, ficar à porta da festa a fazer discurso de resistência.

No momento em que entidades não oficiais usam as redes sociais da internet como plataforma para denunciar, de um dia para outro, escândalos governamentais, empresariais e da vida social, que demorariam dias de apuração e discussão burocrática para ser publicados em um meio convencional, fica muito claro que isso coloca em xeque o “papel das empresas de jornalismo no atual ecossistema de informação em que existem players como Facebook, Twitter e Google”, como muito bem ressaltou Tiago Doria no seu “Weblog”.



Reprodução Sony - As redes sociais obrigam repensar novos rumos para os meios convencionais de comunicação 
Em casa

Para sair do campo teórico e ser bem pragmático, lembro que, semana passada, tivemos um caso bem típico em Ipatinga. Uma jovem que acompanha um familiar em um leito de um hospital local incomodou-se com uma senhora no leito vizinho, segundo relatou, enrolada em um jogo de empurra de qual especialista atenderia a paciente com um quadro agravado de diabetes.


A jovem não se fez de rogada. Passou a mão no iphone e digitou um desabafo no Facebook contra a demora na definição. O caso concreto estava ali, gritante e exposto a milhares de usuários da rede, rapidamente compartilhado para outros milhares e com comentários cada vez mais indignados. Não demorou muito para que um médico aparecesse para atender a idosa.


Claro que o caso poderia ter sido publicado pela imprensa convencional. Mas a burocracia do “ecossistema” pelo qual transita a informação nesses meios, talvez a negligência, só tornaria pública essa situação depois que a senhora estivesse em situação muito pior.


Afinal, “informação em jornal, ou rádio e TV, precisa ser algo muito bem elaborado, criterioso”, critério e labores que as redes sociais dispensam. E com razão. Casos como esse não podem ficar retidos numa rede de inhacas burocráticas pautadas por parcerias e interesses econômicos. Precisam de solução. A vida não espera.


Passado esse episódio, solucionado o caso, o que caberia à imprensa convencional? Talvez nada além de angular a pauta sobre a saturação na demanda de atendimento na rede hospitalar local, ou falta de especialistas para um jornalista que saiba “buscar, selecionar e interpretar os fatos com sensibilidade e transformar confusão em clareza”, como diz Tiago Doria.

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