Reflexões sobre a construção de imagens - inclusive dos jornalistas


Dia desses comentava com os colegas da redação sobre as implicações da construção da imagem, de um povo, de um grupo, de uma nação ou mesmo de uma determinada classe. 

E lembrava das aulas de antropologia em que eram estudados casos como os dos croatas, sérvios, eslovenos e outras etnias balcânicas. Durante séculos um povo falava do outro. Um foi construindo uma imagem negativa acerca do outro. É como nós falamos da suposta preguiça dos baianos, esperteza dos cariocas, ou os paulistas que falam negativamente dos nordestinos. 

Pois nos balcãs, no dia em que explodiu uma guerra civil o clima de animosidade e rejeição de um povo contra o outro já tinha construído um ambiente apropriado para uma guerra sangrenta. 

A Iugoslávia desintegrou-se pela guerra civil étnica desencadeada entre várias etnias que a compunham (sérvios, croatas, eslovênios, montenegrinos, albaneses e macedônicos) A construção histórica da imagem do outro foi determinante nesse conflito dos anos 1990.  Esse é o caso fático e extremo. 

No Brasil, não há dúvidas que a imagem do paulista, como o estado mais trabalhador, o motor econômico do País, poderá influenciar se futuramente surgir por aqui um movimento separatista. 
Foto: Alex Ferreira - Reprodução de arte exposta em 2010 por detentos da Penitenciária de Ipaba em Ipatinga 

Enquanto isso, no nosso quintal...

Trazendo o discurso para um tema bem paroquiano, preocupa-me a mania de alguns colegas da imprensa do Vale do Aço em autoentitularem-se como “várzea”. Não haveria problemas se a brincadeira fosse fechada, entre o grupo. Vira um problema quando essa brincadeira é postada nas redes sociais. 

Digo brincadeira porque de várzea a imprensa local não tem nada. Comparada com a realidade do interior do Brasil as publicações locais têm qualidade, quantidade e seriedade. Afora as relações empresariais, que até podem ser questionáveis por ingerirem na linha editoral, em nome de uma necessária sustentabilidade, o trabalho jornalístico regional está acima da média da realidade interiorana.     

Nunca vi médico, advogado, juiz, promotor de Justiça, representante comercial, servidor público, vendedor de picolé ou taxista se intitular negativamente e um monte de colegas vir aplaudir isso. Nem de brincadeira.

O melhor – e mais lógico – seria que se construíssem imagem de jornalistas do Vale do Aço que trabalham muito e que precisam de um melhor reconhecimento. Precisamos de jornalistas que apareçam menos em redes sociais, que no lugar disso, façam aparecer suas matérias, repercutindo nos planos local, estadual e nacional. 

Comentários

  1. Bravo Alex! Muito boa a sua colocação. Virou um modismo falarmos mal de nos mesmos. A classe é extremamente desunida e briga as vezes por 'fiapos' jornalísticos. Mas estamos sim a frente de grandes centros urbanos no que diz respeito a traduzir a informação. Nestes seis meses fazendo a assessoria da expedição sabe o que mais me incomodou no meu relacionamento com a imprensa? A pressa. Estão todos aflitos em prencher os espaços de jornal, das televisões, com repetições sem ao menos avaliar a qualidade da informação. Por pouquíssimas vezes eu vi uma nova 'roupagem' nas matérias produzidas, um novo raciocínio ou uma pergunta que não fosse trivial.
    Infelizmente estamos produzindo uma geração de jornalistas afogada na baixa estima e sem o menor estímulo para reagir.
    Parabéns pelo espaço. É a primeira vez que passou por aqui.
    Edlayne

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