No caminho errado

Foto: Reprodução. O filósofo alemão Theodor Adorno
Recentemente a saída de uma apresentadora de TV ganhou mais destaque na mídia do que a iminente queda de um ministro, acusado de corrupção. Esse é um episódio que merece uma avaliação mais aprofundada. Incrível o que a era da comunicação enfia goela abaixo do “consumidor”.

Na tela, a apresentadora não passava de uma reprodutora de informações produzidas, fiscalizadas, editadas e apresentadas como uma "comida pronta" para o trabalhador que acabara de chegar em casa no começo da noite, após um massacrante dia, de metas cumpridas e trânsito caótico. Mas sua saída precisou ser tratada com o devido culto à celebridade.

Se os estudiosos da comunicação, Adorno e Horkheimer estivessem vivos agora eles não deveriam suportar a constatação do quanto estavam certos ao avaliar, ainda na primeira metade do século XX, que a tecnologia caminhava para produzir pessoas manipuláveis, facilmente entorpecidas pelos produtos ditos culturais.

 
Adorno, por exemplo, avaliava a tecnologia da transição do telefone para o rádio. A TV era incipiente no seu tempo e os filmes hollywoodianos apenas começavam a chegar à massa. Mas tanto Adorno quanto Horkheimer tiveram sensibilidade para captar a identificação que as pessoas estabeleciam com o conteúdo tecnológico, fabricação de mitos e ídolos, a substituição de um produto midiático por outro cada vez mais fácil e rápido de digerir. Eles previram o "crack cultural" em que estaríamos hoje, sem nem mesmo pensarem na possibilidade da existência da internet.

O que diriam eles, se pudessem ver os vídeos de queda de crianças, pegadinhas e acidentes com pessoas e animais? Pois os fatos reais, que deveriam ser tratados como assunto de programa sobre segurança do trabalho ou prevenção de acidentes domésticos, viram “show” com milhões de acessos na internet e a TV, em uma tentativa de captar parte dessa audiência os reproduzem vergonhosamente.

Pois a tecnologia que deveria ser um instrumento para propiciar uma existência muito mais confortável, democrática e geradora de seres inteligentes, capazes de aproveitar o paraíso terrestre, acabou por criar seres banais, descolados da realidade da existência filosófica do homem, sem paixões, frios e violentos. Sem respeito a quem vive ao seu lado são capazes de um enorme culto à imagem que lhe é apresentada pela tela. Definitivamente estamos no caminho errado.

Comentários

  1. Isso é o nosso país!! só futilidades interessam!!concordo plenamente com o texto!!

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  2. Sobre o comentário queria dizer que não concordo com a afirmação de que ISSO É O NOSSO PAÍS. Eu diria que é o que as pessoas fazem com o nosso país (aí incluídos jornalistas, apresentadores, empresários donos das TVs, políticos, etc) Além do mais, os danos da indústria cultural são um problema global. Todos os países têm lixo cultural. A diferença é que, quando um povo é melhor educado, mais evoluído, os efeitos não são tão devastadores na imbecilização da massa. Ass. Prof. Eduardo

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