Mais de dois séculos na miséria


Em curto período de férias, pedalava pelo interior e litoral Sul da Bahia, a imaginar que a pobreza do Nordeste brasileiro começava justamente ali. Em meio a pousadas suntuosas, latifúndios de milionários brasilienses, baianos, paulistanos e até de cidadãos de outros  países, uma pobreza danada se faz presente em meio a cenários naturais exuberantes e intocados até hoje. 

Pois, emprestado pelo amigo jornalista William de Paula, levava na mochila um exemplar de “1808”, livro do jornalista Laurentino Gomes, sobre a fuga da família real de Portugal para o Brasil, escapando covardemente das tropas de Napoleão Bonaparte em uma empreitada de conquista de territórios europeus naquele século. 
Foto: Alex Ferreira - Casebre na faixa litorânea no Sul da Bahia
Mas no capítulo 21 intitulado “Os Viajantes”, o autor relata que a vinda da Corte Portuguesa para a colônia brasileira fez com que o Brasil fosse descoberto pelos estrangeiros. 

Para minha surpresa há uma citação em especial neste capítulo, sobre a passagem do luso-anglicano Henry Koster, que percorreu o Nordeste a partir de 1816 e escreveu o livro “Travels in Brazil”, traduzido pelo respeitado folclorista Luís da Câmara Cascudo.

E outra, ainda mais surpreendente, é sobre o inglês Thomas Lindley, que percorreu justamente o Sul da Bahia até Porto Seguro no começo do século XIX. A conclusão do estudo de Thomas é contundente, relata Laurentino Gomes: “Ficou surpreso ao constatar que a abundância de recursos naturais não resultava em riqueza, desenvolvimento ou conforto material... a maior parte do povo vive em necessidade e pobreza”.

Curioso é que passados 196 anos nada mudou naquele cenário. É como se o tempo tivesse parado. 

Há quase dois séculos um historiador estrangeiro assustou-se com a miséria do Nordeste brasileiro. E se  visse o Nordeste da atualidade?

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