Cadê meu produto brasileiro?

Em 1998 me vi no Centro de Guarapari (ES) de calça jeans, camisa de manga, num calor imaginário para um balneário. Já naquele tempo não era coisa fácil arrumar vaga para estacionar naquela área, de grandes edifícios, que parecem empurrar três prainhas (Namorados, Castanheira e Areia Preta) deliciosas para o mar. Procurava, esbaforido, uma loja para comprar um calção e pular no mar. 


Do outro lado da rua lá estava a salvação: Taco Jeans. Entrei na loja e fui direto à banca de camisetas e, em seguida a atendente me trouxe um short azul marinho. Paguei pela peça R$ 55 mais R$ 25 por uma camiseta branca. 


O short era feito em um tecido que se parecia tencel. Secava muito rápido. Tinha o forro macio, confortável. Usei até acabar, como se diz.


Recentemente precisei novamente de um short. Lembrei-me do conforto da peça da Taco. Não estava em Guarapari nem precisei ir às terras capixabas, pois em Ipatinga há tempos existe uma loja da franquia. Quem sabe ainda teriam a roupa daquela qualidade que conheci antes?


Entrei no estabelecimento e pedi para ver as bermudas. A moça, uma morena nova, aparelho nos dentes, apontou-me o local e fomos lá. Peças desengoçamente floridas não me agradaram. Restava um, de cor preta, material sintético e forro. Era o que eu procuva.


Mas cadê a leveza do tecido? Nada. Maciez do forro? Inexistente. Apesar disso, experimentei. Serviu, vestiu razoavelmente. Quanto custa? R$ 35, respondeu a vendedora. Como? R$ 35, repetiu. Pensei logo, como pode isso, se há 14 anos paguei R$ 55?


Foi então que olhei no interior, onde ficam as etiquetas. Lá estava a resposta. O calção tinha sido fabricado na China. Como pode uma empresa legitimamente brasileira, criada no Rio de Janeiro, passar a comprar roupa etiquetada na China?. 
Marcas, das famosas, internacionais ou nacionais,  vendem etiquetas, apenas


Apesar da indignação, precisava e levei o short chinês desconfortável para casa. Talvez tenha sido traído pela avareza e gostado do preço. 


Em casa, assim que tirei a etiqueta, abri a gaveta e, aos poucos, saltaram de lá outras peças com etiquetas igualmente chinesas. Visto e calço china para ir à caminhada, para pedalar e para passear. 


Certamente dirijo china e escrevo nesse teclado de notebook em cujo fundo está escrito: "Made in China". Como consolo, antes do ponto final, lembro-me que não estou só em minhas preocupações: Meu quadrinho chinês.   

Comentários

  1. Imagine você, meu caro Alex, a minha reação quando recebi o moedor de pimenta inglês fabricado na China. O mecanismo do moedor tem garantia eterna, mas isso não me deixa mais tranquila. Imagine quantas vezes vou ter que recorrer à assistência técnica já que a fabricação é legitimamente chinesa!

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  2. OOOOÔ meu prezado esquenta não, o capitalismo é tão selvagem (nossa, que retrô), mas tão selvagem que também é antropofágico. só posso pensar nisso com esse efeito china na produção de bens de consumo

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  3. Em 1.500 os europeus trouxeram as quinquilharias que para os nativos daqui eram novidades, em 1980 ficávamos babando com a tecnologia que americanos e japoneses dominavam, mas em 2012 podemos produzir de tudo e não precisávamos ter que vestir e calçar china eu concordo com você Alex. Abraços, Ane.

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