Tenham dó dos meus tímpanos


“Cada país tem a Lady Gaga que merece. A nossa se chama Michel Teló”. A frase atribuída ao polêmico Marcelo Tass não poderia ser melhor. 

A atual geração ficará sem referências musicais. Ela vive música do nível de “Menudos” ou “Mamonas” que minha geração viveu. Minha geração começou a “comer” o lixo cultural que se dilatou nesse século XXI em quantidade insuportável. A vantagem do lixo cultural é que ele não perdurou no tempo. As “obras”, quando lembradas, remetem à ideia de pena, lamento, desperdício. 

A geração anterior à minha tem como referências, o Tropicalismo, o Clube da Esquina, a MPB, a Bossa Nova – quem não se lembra de Garota de Ipanema, tocada no mundo inteiro? O Rock And Roll dos Beatles, The Doors, Led Zeppelin e tantos outros nomes. E a atual geração vai se lembrar orgulhosa, de Michel Teló daqui a duas décadas? Duvido.  

Dia desses conversava com o jornalista Sávio Tarso e concluímos que dificilmente projetos musicais como o “Cantoria”, que reuniu Elomar Figueira Melo, Vital Farias, Geraldo Azevedo e Xangai vão se repetir. As grandes gravadoras – por mais problemáticas, excludentes e mercenárias que fossem – arquitetavam ou permitiam que projetos como o Cantoria se realizassem. 

Tentei comprar pelo menos um dos três discos do álbum Cantoria e não consegui. Não há no mercado nenhum exemplar dessa obra prima da música brasileira. “Produto indisponível”, é o que se lê em páginas como as do Submarino, Livraria Leitura e tantos outros endereços onde se compram CDs. 

No Mercado Livre, o CD usado atinge a incrível cotação de R$ 229. O Cantoria foi um projeto viabilizado pela gravadora independente carioca Kuarup.  

Em 2009 a Sony Music assumiu os negócios da Kuarup e prometeu colocar no mercado 10 títulos da extinta gravadora. O catálogo de mais de 200 álbuns com nomes como Renato Teixeira, Pena Branca & Xavantinho, Paulinho da Viola, Elomar, Xangai, Arthur Moreira Lima, Heraldo do Monte, Henrique Cazes, Geraldo Azevedo, Paulo Sérgio Santos e Vander Lee. Parece que a Sony não cumpriu sua promessa, dada a falta dos CDs de Cantoria. 

Enquanto faltam no mercado algo que preste, uma vasta gama de lixo brota nas redes sociais e dissemina um sucesso perecível da noite para o dia, apresentada aos jovens de nosso tempo como “coisa fina” e “da moda”. Tenham dó dos meus tímpanos. 

Comentários

  1. Estimado amigo, passei alguns dias com os ouvidos mergulhados em músicas POP e preciso fazer um comentário: a Lady Gaga faz show ao vivo, tem bela voz e toca piano, de verdade. Não é meu tipo de música favorita, mas é preciso ser justo com a moçoila. E "show ao vivo" não é pleonasmo vicioso!!! Britney Spears e Katy Perry sobem ao palco com play back. E a Britney, depois de enlouquecer, raspar as sobrancelhas e renascer das cinzas, ainda apareceu num show meio quadrada, sem sequer tirar os pés do chão. Pior ainda que Michel Teló é ouvir Wanessa Camargo cantando pop music como se fosse uma dessas mencionadas acima. Deprimente!

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