Homenagem a um gênio


Assistia na noite de terça-feira (3) ao Observatório da Imprensa. Apresentado pelo jornalista Alberto Dines, o programa é um dos poucos atrativos da TV aberta no começo da semana. 

Em meio a tanto besteirol, a invadir as telas, ouvir gente inteligente a falar sobre coisas importantes é um alento. E o Observatório da Imprensa é uma dessas exceções. 

Pois o tema, apresentado na noite de ontem, com participação inclusive do cartunista Chico Caruso e do poeta Ferreira Gullar, foi a morte do jornalista e escritor Millôr Fernandes, no dia 28 de março. 

Entre resenhas sobre a atuação do jornalista, o programa reprisou trechos de uma  entrevista com Millôr, feita em 1998. Incrível como se passaram 14 naos e as palavras do entrevistado estejam tão atuais. 

Irônico e polêmico, definitivamente Millôr construiu a crônica dos costumes brasileiros dos últimos sessenta anos. Outro feito notável dele é que mesmo com seus aforismos, epigramas, duplos sentidos e trocadilhos tenha alcançado tanto reconhecimento, em uma sociedade marcada pelo culto a quem dá tapinhas na costas e finge ser amigo. 

Entre os casos memoráveis, lembrados pelo jornalista, está "A verdadeira historia do paraíso", de cunho ateísta. Saiu na revista O Cruzeiro, na década de 1950. Ele enfrentou a fúria da Igreja Católica por meio  da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), uma organização católica tradicionalista. 

Contou que estava na Europa, após a publicação, quando soube que na primeira página da revista, na qual trabalhava havia 25 anos havia "um incrível editorial contra mim, naturalmente não assinado, no qual se dizia que eu tinha publicado a história, dez páginas em quatro cores (!), sem conhecimento da redação, da secretaria e, conseqüentemente, da direção do semanário".  Pediu demissão e foi trabalhar em outro lugar.  

Pois é, caro professor Millôr. Acovardamo-nos. Não existem mais "milores" por aí.

Comentários

  1. muito bom sua observação. abraço Anderson;

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  2. DESPERTAR É PRECISO

    Na primeira noite eles se aproximam e colhem uma flor do nosso jardim e não dizemos nada.
    Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores, matam o nosso cão, e não dizemos nada.
    Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.

    Vladimir Maiakóvski

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  3. Prezado anônimo, esclareço que o poema "No Caminho, com Maiakóvski", nunca foi de Maiakóvski, mas sim do brasileiro Eduardo Alves da Costa.
    confira de onde surgiu essa confusão: http://www.jornaldepoesia.jor.br/autoria1.html

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  4. Agradeço o esclarecimento! Não sabia mesmo!

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  5. De nada anônimo... eu também não sabia. Até que um dia assisti a uma entrevista do Eduardo Alves na TV Cultura de São Paulo. Foi quando ele falou sobre o assunto e disse que não se importava de as pessoas atribuirem a Maiakóvski o poema que na verdade é dele, Eduardo.

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