Cabe ao eleitor um papel mais nobre

Três fatores conjunturais devem pesar nas escolhas do eleitorado na disputa pelas prefeituras e câmaras municipais neste ano.

Primeiro, a ideia de que é preciso acabar com a instabilidade política nas administrações.

Só em Timóteo, entre 2005 e 2010 foram feitas 12 trocas no governo, graças à sequências de sentenças que cassavam mandatos de prefeitos e liminares que derrubavam as cassações.

Em Ipatinga, o  prefeito eleito em 2008 (Chico Ferramenta) foi impugnado por causa da rejeição de contas de governo em 1992, o que tomou posse não pôde permanecer (Sebastião Quintão foi cassado por conduta vedada na disputa eleitoral de 2008) e a cidade teve que fazer nova eleição em 2010. O que assumiu (Robson Gomes era presidente da Câmara, assumiu interinamente em 2009 e foi eleito em 2010 na extemporânea) não deu conta de fazer os arranjos políticos necessários para a governabilidade. 


Ninguém, aguenta mais o entra e sai na cadeira palaciana e seus inegáveis efeitos colaterais na vida municipal.

Pode ser que a lei da Ficha Limpa, que expurga da disputa candidatos com processos julgados em tribunais colegiados, evitem que sejam eleitos aqueles que, posteriormente, podem ser cassados.

O segundo fator é que os candidatos não poderão fazer promessas que não possam ser cumpridas, sob pena de serem crucificados posteriormente. Os prefeitos eleitos vão pegar (ou continuar) em governos com as finanças em frangalhos, face a questões como quedas acentuadas na arrecadação. 


Redistribuição do ICMS e menor arrecadação por causa da retração na indústria, combatida com a redução tributária pelo governo federal estão entre essas questões.

Com a economia em um estado de letargia nunca vista antes, sem previsão de retomada da atividade e a siderurgia mergulhada em crise internacional, com enxugamento de quadro de pessoal, os cofres públicos terão menos recursos para garantir empregos aos cabos eleitorais. Sem promessa e garantia de empregos públicos, menos apoiadores carregarão bandeiras pelas ruas antes de 7 de outubro.

Por fim, há o efeito antecipado da disputa eleitoral de 2014, quando o PT de Lula e o PSDB de Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso deverão digladiarem-se pela presidência da República. É claro que os dois lados dessa disputa querem ampliar suas bases municipais para alavancar apoios importantes em 2014. No caso de Minas Gerais, estão em jogo a popularidade de Lula e a força do governo estadual. Prefeituras à míngua, dependentes do governo estadual, mais do que do federal, podem ter peso significativo na disputa deste ano.

E o eleitor, que papel cabe a ele neste cenário, senão o de um palhaço manipulável no picadeiro? Reservaram para o cidadão um mero papel coadjuvante na hora de apertar o botão na urna, quando deveria estar no topo deste processo, com a força do seu voto. Mas falta essa consciência e não tem quem a implante na cabeça do povo.
 

É uma pena que as entidades comunitárias e de classe estejam tomadas por interesses partidários e não possam estimular um debate mais racional sobre as escolhas a serem feitas neste ano. Não vou nem citar neste rol de acusados a imprensa, que tal qual as prefeituras mendigam a sustentação financeira de suas atividades – não que isso seja justificável.

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