Café cuíca, paixão certa?

“Grãos cuspidos por mamífero em fazenda no ES renderão café de R$ 900 o quilo”, é o que diz notícia de Luiza Fecarotta, que foi à bucólica região de Serra Azul, produzir reportagem para a Folha de São Paulo, sobre um feito não tanto inusitado, mas curioso.

A leitora Rita Nascimento decidiu apelar para um trocadilho, ao comentar o caso do café cuíca. “Tem um ditado que diz: ‘cuou café na cueca. por isso se apaixonou’. Será que este café, "cuado na cuíca" as pessoas ficarão apaixonadas por ele?”. E emendou: “Os humanos não saem da cola dos animais mesmo, será inveja deles? Deixem os animais em paz”, brincou.

Essa matéria e a brincadeira da leitora é porque lá nas terras serranas capixabas as cuícas, pequenos mamíferos silvestres, parecidos com os ratos, mas que na verdade são marsupiais (como o canguru, carregam filhos em uma bolsa, na barriga), se alimentam da casca madura do café, que é doce feito mel quando está em um estágio determinado de amadurecimento.

Os bichos são seletivos e pegam os melhores dos melhores grãos, chupam o doce e cospem a semente que sobra, em meio a uma gosma. Os roceiros do lugar, contam a jornalista, demoraram para descobrir quem fazia a lambança e os cafeicultores demoraram mais ainda para chegar à conclusão que poderiam transformar o prejuízo em lucro, produzindo o Café Cuíca, com alto valor agregado.

Cuíca:  também conhecido como rato-cachorro, tem hábitos noturnos e gosta de chupar café

“Depois de um ano de avaliações, o café da cuíca deve ser lançado em novembro por pelo menos R$ 900, o quilo. Em média, um pacote de mesmo peso de um café especial custa R$ 60 - os grãos cuspidos pelo animal custarão, portanto, 14 vezes mais. Bicho sem carisma, a cuíca, quem diria, vale ouro”, informa a jornalista.

Marcelo Justo/Folhapress - "Cuícas são incapazes de comer café verde ou estragado", diz especialista; colheita dos grãos cuspidos pelos animais é realizada manualmente por roceiros que se agacham junto aos pés de café e pegam grão por grão

Mas no Brasil café semi processado por animais não é tanta novidade assim. O pioneirismo dessa “mutreta” foi o Jacu, ave desengonçada que gosta de frutos de café, mas defeca a semente intacta. Os primeiros cafés de jacu eram vendidos a R$ 450 o quilo do pó.

No mundo há outra esquisitice, o famoso café kopi luwac, da Indonésia, cujos grãos são retirados das fezes da civeta (primo do gambá). O custo dessa “iguaria no mercado custa US$ 493, o quilo (cerca de R$ 1.000).

Leia reportagem na íntegra: Café Cuíca