Sintonia fina


Em tempos de campanha política é lamentável que do cidadão médio para baixo poucos se interessem debater profundamente a questão das políticas públicas. Tem barulho demais no ar, mas pouco conteúdo. Somente mesmo apurando a audição para perceber além. Mas parece que a maioria está no ritmo de “deixa a onde me levar” e não quer saber de nada. Os apelos caem em ouvidos moucos. 

Da carteira assinada ao pão da manhã, da passagem de ônibus à aposentadoria, do passeio com segurança no Parque Ipanema à sacola de lixo que retiramos de casa de dois em dois dias, tudo passa pela gestão pública nos planos municipal, estadual e nacional. 

E gestão feita por pessoas que escolhemos. Mas o cidadão médio (classificado pelo professor Jorge Ferreira como aquele que cumpre seu horário de trabalho, chega em casa e senta-se à frente da televisão, sem se preocupar com mais nada, apenas à espera do próximo dia) bem como as classes ainda menos favorecidas, foram condicionados a não olhar para questões mais amplas. Isso requer pensar. Pensar dá trabalho e gera inquietação. “Odeio política”, repetem. 

Marta Harnecker, psicóloga, escritora, jornalista chilena e uma das principais investigadoras e divulgadoras das experiências de transformação social da América Latina

E parece que os partidos políticos gostam desse “establishiment”, porque entra eleição, sai eleição e nada muda em termos absolutos.  

Pois vejam que a chilena Marta Harnecker, que se apresenta como militante marxista, educadora popular, discípula do filósofo Louis Althusser, integrante do governo socialista de Salvador Allende no Chile e ex-assessora do presidente venezuelano Hugo Chávez tem uma definição bacana sobre a questão partidária.

Perguntada sobre com o ela vê a diferença entre partidos, Marta Harnecker deu uma resposta digna de “fechar o buteco” e parar para pensar um pouco e avaliar melhor o blá-blá-blá eleitoral atual.  

“Partidos não compreendem a política como a arte de construir forças sociais, mas como forma de ganhar postos no governo. A esquerda muitas vezes faz uma prática igual à direita: clientelismo, personalismo, carreirismo, às vezes até corrupção. O povo vê discursos e práticas iguais e se decepciona”.

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