Vida breve

Um ar fresco de fim de tarde no morro do cemitério prenunciava que a noite estava próxima. O cemitério de Manhuaçu está situado em uma encosta de morro, assim como boa parte da cidade. E, neste morro, o sol de inverno no fim da tarde é frio. Voltei à minha terra natal, na sexta-feira, para sepultar a minha mãe-avó, que se foi aos 95 anos, vitimada por complicações generalizadas de saúde.

Às 17h30, enquanto o ataúde deslizava para dentro do jazigo, pensava nos rostos chorosos dos homens, mulheres e crianças ao redor.

Caso alí pudesse se manifestar, certamente vó Cecília repreenderia a todos. "Fiquem bobos aí. Eu estou indo pro descanso eterno e vocês vão ralar vida afora um bom tempo e ainda ficam feitos 'pantasmas' chorando no meu velório?"

Nascida em Matipó, ela estava viúva do vô João Custódio havia 22 anos. Foi uma espera longa. Ela reclamava constantemente da ausência dele, com quem teve 10 filhos, dos quais proliferaram cerca de 50 netos e um tanto de bisnetos.

Velório é sempre um momento especial. É mais do que o casamento e está num plano muito superior às cerimônias de batismo. Velório atrai gente de longe, gente de perto e até desafetos para próximo do caixão. Sem convites. Todos se sentem mais, ou menos, obrigados a comparecer. Os desafetos não vão pelo finado, mas para rever os da família contra os quais não têm nada, pois sabem que no velório eles estarão alí.

As 12 horas ou mais da arrastada cerimônia do Velório, marcadas por abraços, lágrimas e soluços parecem não servirem para aliviar a dor da perda nos mais sensíveis. A hora que finda o velório, e a última despedida com abertura da urna, é o ápice da comoção.

Antes desse momento crucial, o do fechamento da lápide, há sempre outro fato marcante. É quando o carro funerário para na porta do cemitério e os  homens da família cercam-se da urna mortuária e fazem uma caminhada célere até o túmulo.

Dos braços fortes pendem as mãos grossas  que abarcam a alça de metal. Seis homens, três de cada lado, transportam o corpo escadaria acima. E ao suportar o peso com as mãos é como se repassassem aos antepassados a mensagem: "Você nos criou fortes, como esses braços que te sustentam, e vamos superar sua perda, sem nunca nos esquecermos do que foi para nós".

Novas despedidas e todos seguem rápido para suas casas. A vida continua. E é breve.  

Comentários

  1. Atrasado, seguem meus pêsames. Força sempre, como dizia o poeta de nosso tempo. Abs. Marcos.

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