Deixamos de gostar da educação

No revira, revira dos canais abertos deparei-me, recentemente, com a intrépida figura do apresentador, Antônio Abujamra. Tão destemido, que merece um artigo futuro, exclusivo. 

Mas o fato que nos interessa agora é que ele nos presenteava com mais uma edição do Provocações, seu programa semanal na TV Cultura de São Paulo. 

E entrevistava o não menos emblemático, professor Paulo Ghiraldelli. O diálogo a seguir é a transcrição da abertura do programa, para quem perdeu:



Antes a educação era assunto de professores, de mestres. Depois passou a ser coisa de educadores, pedagogos, psicopedagogos, e não resolveu nada. 

Agora surge a figura sempre bem intencionada do “filósofo da educação”, achando que vai resolver.  

Temos aqui, um filósofo da educação. Ele escreve para os jornais sobre o que poderia dar certo e o que vai dar errado na educação deste país.  

Ele escreve livros, usa a televisão e blogs na internet para convencer as pessoas a olhar as coisas como ele. Está aqui, para nos provocar: Paulo Ghiraldelli Jr.




Abujamra - Quando te perguntam por sua profissão, você responde: Educador, professor, filosofo ou filósofo da educação?

Ghiraldelli - Tudo, menos educador. Certamente filósofo. É uma boa profissão. 

- O que faz um filósofo da educação?

- Não tenho a mínima ideia do que faz um filósofo da educação, mas um filósofo, ele deveria fazer exatamente o que você faz, provocação.

- Quando ouço uma palavra: “educação”, não sei porque não fizeram um projeto de 30 anos. Porque (da forma como é conduzida) vem um governo, tira um pouco, vem outro governo tira mais um pouco... O que esperar dos governos federal, estaduais e municipais?

- Nossa sociedade não gosta da educação. Pelo menos agora, mas já gostou muito. Nossa classe média, por exemplo e mesmo as classes mais baixas (da escala social) estudaram muito. 

Só havia uma saída para os jovens dessas duas camadas: fazer bem algum bom curso, estudar alguma coisa. Mas o Brasil de hoje é um país em que boa parte das pessoas passou a entender que pode ser gente, sem estudo. 

Nos anos 50 ou 60 não se podia ganhar a vida sem ter um curso. Até buscam o diploma agora, mas o estudo duro, um curso que leve o cidadão a melhorar suas condições intelectuais, morais e cognitivas, não. Esperamos que o brasileiro volte a estudar e a gostar de cultura.   

- Você fala mal do governo e dos intelectuais, porque?

- Eu sou um intelectual e eu falo mal de mim. Porque eu me acho acomodado. Por mais que eu faça me acho impotente. Por mais que queira movimentar as coisas eu ponho os pés pelas mãos e não consigo fazer o que é certo. Também não tenho paciência para políticos, que poderiam mudar alguma coisa. Me aproximo deles, mas eles viram carreiristas e abandonam as coisas que prometeram. Isso me dá uma raiva terrível e eu brigo com as pessoas. 

A entrevista prossegue com abordagens inquietantes sobre o ensino a distância: “O grande problema do ensino a distância é que ninguém ainda conseguiu responder a uma pergunta: ‘qual a distância do ensino a distância?’”.

Nas redes sociais, youtube e página da TV Cultura, a sequencia da entrevista, imperdível, como sempre propõe o provocador Antônio Abujamra.

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