Função social do jornalismo


Recentemente fui abordado por dois estudantes de comunicação com o seguinte questionamento. Quem define a totalidade da pauta diária? Os interesses econômicos da empresa que mantém o jornal ou os interesses sociais coletivos?

Essa questão gera um grande choque aos novatos que adentram ao mercado sonhando em fazer jornalismo de amplo interesse coletivo, coisa muito difícil de ser alcançada. Seria viável se os veículos fossem independentes, vivessem como instituições de caridade, mantidos por doações. 

Que papel cabe ao jornalista, então? Respondi que não há outro caminho para sair lá à frente senão saber navegar nas brechas do poder. E ainda assim, com muita experiência e conhecimento, é impossível ficar sem arranhões. Alguns profundos e sérios.
 
Mas vejo que a inquietação dos estudantes é muito mais pertinente ao meio do que se imagina. Foi o que conclui quando li na página da Fundación Gabriel García Marquez para el Nuevo Periodismo Iberoamericano (Fnpi), o texto Función social del periodismo. A tradução segue abaixo:


Função social do jornalismo  

Sempre que o conselho editorial propõe questões sociais, como a alfabetização, ou desistência escolar, ou o trabalho infantil, a resposta é a mesma: Não vendem esses assuntos. Mas estes não são alvo das questões de um jornal? Um veículo é legitimado quando vende, mas perde legitimidade ao vender pouco?

Sonia Riquelme
Redactora de Sociales
Buenos Aires, Argentina

Apesar das reivindicações dos gestores e acionistas, a renda de um jornal (ou outro meio) não deve vir em primeiro lugar. Dito de outra maneira, um jornal deve ser um serviço, depois uma atividade com fins econômicos e financeiros.

Paradoxalmente, deve ser um bom negócio para ser um bom serviço. É um serviço social, em primeiro lugar. Sua natureza primordial é a promoção, incentivo e apoio para o desenvolvimento da sociedade, razão pela qual as questões mais importantes para um jornal são aqueles que têm a ver com o desenvolvimento da sociedade. Por isso, quando se fala de economia, política, religião, cultura ou esportes, é porque são atividades relacionadas com o bem da sociedade. 

Se o tema da pauta não promove as vendas do jornal ou atrai audiência, essa deve ser uma questão secundária, que não têm de decidir sobre a sua inclusão na ordem do dia. 
Ocorre que a vida da sociedade é a matéria-prima do jornalismo. Transformados em textos, os acontecimentos desta sociedade  deverão ser identificados por leitores e jornalistas como um serviço para o público. 

A empresa jornal perde legitimidade quando se desvanece e distancia dos assuntos de interesse do público. Ryszard Kapuscinski expressou esse pensamento quando ele apontou que o declínio do jornalismo começa quando a notícia torna-se uma mercadoria. 

Dentro da mesma lógica pode garantir que a sua dignidade seja aumentada quando faz da notícia, qualquer notícia, um serviço à sociedade. A valorização do papel dos meios de comunicação é agregar valor às mudanças sociais, tornando-as visíveis, de forma a promover perspectivas de interpretação, gerar discussões que permitam a observação crítica pela comunidade. 

Mas também é contribuir  para a criação do imaginário sobre as mudanças que a sociedade está experimentando, e relatórios para garantir a continuidade dos processos sociais, sua organização em histórias sociais compreensível. O mercado não parece ser suficiente para o desenvolvimento de meios de comunicação independentes que podem representar as necessidades e demandas da sociedade. 

É óbvio que a mídia contemporânea localiza-se na dinâmica do mercado e processos que têm mercado exigente e competitivo e também os meios de sustentabilidade econômica exigem que se fortaleça sua autonomia. 

Mas o mercado também restrito. Ele mostra uma certa banalização da informação que se dobra para classificação ou estatísticas de circulação, a auto-censura pelo poder de anunciantes oficiais ou particulares e redesenha dominada aceitação do mercado. 
Enquanto o mercado permite que as propostas de diversificação também promove a normalização de produtos de mídia (certos gêneros, por exemplo, tendem a olhar monotonamente a TV).

A agenda de notícias basicamente significa que o edifício, embora cada vez mais consultar outras tecnologias permitem fontes. A negociação das questões e entendimentos sociais nas redações é uma tarefa difícil, mas não impossível. Jornalistas muitas vezes reagem com ceticismo à notícia de que parecem ter um peso institucional ou até mais em comparação com aqueles que foram desenvolvidas por outros organismos do que os seus próprios meios de comunicação. 

Por isso, é preciso "desembrulhar" a informação social ou fugir da "infecção de bondade", ou seja, qualquer informação que obedecer a interesses legítimos é parte de propostas impostas de fora da lógica dos meios de comunicação. 

Germán Rey: Anais do Seminário: Mídia e Sociedade Civil em San Carlos de Bariloche, 06, 2006.

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