Fica logo alí

Dunas de Itaúnas, fora de alta temporada é um lugar deveras mágico. Com a metade dos seus estabelecimentos fechados, poucos "bichos grilos" e suas mochilas ou mostruários de artesanatos, com os salões de forró em silêncio, pouca gente pelas vielas apertadas, a vila foi um recanto da paz para quem se dirigiu para lá neste feriado, de Finados.

Lamentavelmente os sinais de telefonia celular e internet invadiram aquele recanto e não raro podiam ser vistas pelos cantos as pessoas com smartphones, pouco preocupadas em observar o redor, mas atentos à telinha, clicando freneticamente em sabe-se lá o quê.  Deixa pra lá, cada um na sua.  

A primeira vez em que estive em Dunas, faz uns cinco anos, vi um lugar apinhado de um povo que não dorme à noite. Jovens vindos de todo o canto transformam o vilarejo em um lugar alegre, colorido e seminu, que mistura o urbano do Rio, São Paulo, Vitória e Belo Horizonte e o tradicional forró. Foi engraçado ver jovens dançando forró no momento em que outros ritmos, como o degradante funk já invadia   qualquer ambiente.  
Caminhada de 1km na areia para se chegar ao Atlântico

No mês de julho ou na alta temporada do verão, o ritmo de Itaúnas é ditado por sanfonas, zabumbas e triângulos. O lugar sedia em julho o Festival Nacional de Forró, que atrai os fãs do arrasta-pé de todo o país. "Buraco do Tatu", "Recanto do forró", são alguns dos nomes dos estabelecimentos. Mas há alguns anos surgiu um forasteiro: Crepe Samba Cone, que toca samba na capital do forró. "E fica lotado, é sensacional. Leve essa mulher lá e bota ela pra dançar", diz o Júlio, artista plástico e proprietário da Pousada e Camping A Nave. 

Aliás, camping, pousadas e bares rústicos estão por todo lado. E para as pessoas da vila, nativas ou não, extremamente solícitas quando perguntadas sobre algo, tudo é "muito bacana", "mui fino, brother", "sensacional", ou "espetacular".

Normalmente, os primeiros raios de sol são recebidos por forrozeiros que passaram a noite na gandaia, as vezes acompanhado por uma bela dona de cintura fina, saia rodada, despudorada e ciente de sua sensualidade e, não muito raro, são vistos zumbizados a caminho da praia com apenas a companhia de uma garrafa na mão. Às 9h, a vila parece assombrada, sem viv´almas nas ruas. Os que não foram para a praia, estão a dormir o sono revigorante para a noite seguinte. 
Aqui debaixo fica a antiga vila de Itaúnas, soterrada a partir de 1960.  Ambientalistas dizem que as dunas avançaram com o desmatamento. Hoje um projeto ambiental começa a recuperar a vegetação no entorno das montanhas de areia

A existência das Dunas, que em 1971 soterrou a última casa do vilarejo antigo, obrigando seus moradores a mudarem-se para o outro lado do rio Itaúnas, só aumenta os atrativos do lugar. Para se chegar à praia o caminhante precisa subir uns 30 metros de dunas de fina areia clara, descer do outro lado, passar por um pequeno charco e alcançar o Atlântico. 

Focado numa tal energia das dunas, o lugar recebe centenas de remanescentes do movimento hippie. Alguns gostaram tanto de lá, que permaneceram na vila e contribuem para um visual esotérico, marcado por forte simbolismo.




As dunas estão dentro de um Parque Estadual, administrado pelo Instituto Estadual do Florestas do Espírito Santo e não se pode entrar com veículo automotor (motocicleta, buggy ou picape) no local.

A poucos quilômetros da fronteira do estado da Bahia, o povo de Itaúnas, que é um distrito do município capixaba de Conceição da Barra, fala um sotaque misturado, arrastado do mineiro, muito presente também, associado ao chiado do carioca e o molengo baianês.
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E para quem sai de Minas Gerais, em especial do Vale do Aço ou Leste, Dunas de Itaúnas fica logo alí. É só sacudir a preguiça, sair bem cedo, bem antes do sol nascer, pegar a BR-381, passar por Governador Valadares,  Mantena, Nova Venécia, São Mateus e chega-se com cinco horas de viagem. É mesmo logo alí. 

Os 435 quilômetros só não são vencidos mais rapidamente porque a estrada corta várias cidadezinhas e bairros em Minas e no Espírito Santo.   "E aí, Alex. Ficou relax?" Perguntou o Júlio na saída, domingo à tarde. "Volte logo ein, brother!". "Pode deixar, não demoro não, amigo Júlio", respondi. 
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Comentários

  1. Não bastassem os encantos de Dunas de Itaúnas e, "logo ali" alguns quilômetros por uma estradinha de terra, e o turista chega a Riacho Doce, uma praia belíssima na divisa entre os estados do ES e Bahia. Se tiver sorte e encontrar água no riacho, nada melhor do que se esbaldar com o banho simultâneo de mar e água doce. Devido às intervenções do homem na natureza, às vezes o filete de água fica seco. Apesar desses alertas, as ações em nome do progresso continuam praticadas a esmo...

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