Os techintianos e um novo tempo para Ipatinga


Embora muitas pessoas subam ao tamborete para dizerem-se surpresas com o anúncio da Usiminas, de venda do imóvel ocupado pelo hipermercado Consul, no shopping, para os mais atentos isso não é exatamente uma novidade. 

Logo que assumiram o controle da siderúrgica, em 2012, ao lado da Nippon Steel e Caixa dos Empregados da Usiminas, os executivos do Grupo Techint (formado pela Ternium, Siderar e Confab) deixaram claro que iriam focar na sua especialidade, a produção de aço. 

Ainda sob administração de Wilson Nélio Brumer a empresa já tinha anunciado a venda dos ativos não relacionados diretamente à sua atividade fim. 

Casas, hotéis, lotes, prédios, áreas rurais e muitos outros bens imóveis foram colocados na praça. Vários estão em fase de negociação sigilosa com interessados. Localizados em áreas nobres, os imóveis valem uma fortuna.

Embora os valores não sejam revelados, não é preciso ser especialista para entender que, passar os bens “en la plata” significa capitalizar para cobrir, em parte, os arranhões e traumatismos do prejuízo de R$532,7 milhões de 2012, um dos maiores da história da Usiminas. 

Na esteira desta discussão não é novidade também para aqueles que conhecem os bastidores do negócio, que o grupo controlador, formado por uma holding de argentinos e italianos, anda às turras com os japoneses. Os nipônicos têm uma relação histórica com a Usiminas e nela depositaram conhecimentos até então restritos às suas unidades no Japão. Desagrada-lhes ver suas técnicas apropriadas por terceiros. 

Foto: Alex Ferreira - Rio Gas & Oil 2010
Usiminas tem no mercado concorrentes de propriedade de sua própria controladora

Seria pirraça dos “techintianos”, querer tocar em pontos sensíveis, como os braços sociais da Usiminas? Ou apenas astúcia comercial para a sobrevivência da empresa num contexto extremamente complexo da siderurgia atualmente?

Independentemente da resposta é preciso lembrar que a subsidiária, Usiminas Mecânica, empresa de bens de capital com sede em Ipatinga é também concorrente da Tenaris Confab (Pindamonhagaba-SP), controlada pelo Techint-Ternium. Em dezembro a Cofab foi destaque com dois prêmios de Melhores Fornecedores de Bens e Serviços da Petrobras. 

Enfraquecer a Usiminas mecânica pode ser estratégico para o grupo Techint, com a finalidade de fortalecer a Confab, maior, mais estrutura e mais perto dos principais clientes no sudeste brasileiro. 

E o que seria da Unigal, dominada pelos japoneses dentro da Usiminas? A unidade de galvanizados da siderúrgica atua em um mercado estratégico atualmente: fornece aço revestido para a indústria automobilística e para a produção de eletrodomésticos – dois segmentos emergentes no Brasil e América do Sul.

Também neste caso controlada e controladora têm atividades concorrentes. A Ternium é uma das empresas líderes na produção de aço revestido, laminados a quente e a frio. 

Produz anualmente aproximadamente 11 milhões de toneladas de produtos acabados de aço nas unidades localizadas no México, Argentina, Colômbia, Estados Unidos e Guatemala e mantém uma eficiente rede de serviços e centros de distribuição no continente sul americano.


Uma leitora do Diário do Aço foi apocalíptica esta semana, ao ler notícia sobre a decisão da Usiminas em vender o prédio ocupado pela Consul no shopping: “Argentinos querem fechar tudo em Ipatinga. Quero ver o comércio segurar a cidade”.

Bem. Fechar, não seria possível. Ninguém rasga dinheiro. O grupo Techint-Ternium investiu R$ 5 bilhões para adquirir o controle da Usiminas, ao comprar as fatias da Votorantim e Camargo Corrêa. Mas que a cidade precisa acordar, isso precisa. Uma nova ordem está em vigência e isso faz bastante tempo.

Comentários

  1. Que bom que escreveu sobre esse assunto aqui no "Observador", queria uma visão menos "notícia" do assunto, rsrs, não sei se me fiz entender mas é isso.

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