Padecimento de uma profissão


A "suruba jornalística" do Vale do Aço está tão elevada que um repórter pega "emprestado" o áudio de outra emissora e sequer se dá ao trabalho de cortar o “encerramento” feito pelo colega. “Fulano de tal, para a rádio tal” e entra depois o colega da emissora concorrente: “Nós ouvimos a entrevistada tal, para a rádio tal”. Santo Expedito! O que é isso?

Escutava o radiojornal de uma emissora no começo da manhã de sábado e quase tive um AVC quando ouvi essa pérola. Inicialmente pensei que ainda dormia, mas era verdade. O áudio era de outra emissora, cedido com encerramento e tudo para outro colega.

E depois o povo reclama que não recebe nem o piso da categoria (Para BH o SJPMG divulga que a CCT/2012 prevê os seguintes pisos: Empresas de Rádio: R$ 1.480,00, Empresas de TV e Produtoras: R$ 1.600,00 e Jornais diários: a R$1.845,45. Para o interior, o piso é negociado de forma diferenciada em cada região, mas gira em torno destes valores mesmo).

Sou do tempo em que repórter da rádio X era profissional da rádio X e da concorrente o que se tinha era apenas o monitoramento necessário. Do colega da concorrente preservava-se, no máximo, uma amizade que respeitava os limites profissionais.

Pegar carona no carro do concorrente? Hoje isso é normal. Antes, se não tinha carro, ia de ônibus mesmo, sem comodismo.


Havia sempre um esforço grande no sentido de levar algo novo, algo exclusivo. Era orgulhoso oferecer para o "cliente", que era o ouvinte, leitor ou telespectador (agora tem o internauta) uma reportagem ou notícia e, nas entrelinhas, dizer a ele: "Meu prezado, sou jornalista. Esforcei-me para apurar esta informação aqui, ó. Só eu tenho isso. Ouça, leia, avalie, reflita, prestigie".

Ao que parece este sentimento não existe mais. O sujeito é um péssimo jornalista, mas um ótimo "face". Impossível dizer se falta quem coloque ordem no galinheiro ou se é inaptidão mesmo para o ofício.  

Na ajuda das pautas diárias, até hoje, luto no conjunto de colegas de redação a agirem como nos tempos antigos, para que apurem sempre algo novo, o "como" e o "porquê" dos fatos, instruo e oriento para que construam um nome digno de respeito. Confesso que conseguimos bons retornos com isso, embora a insistência tenha que ser intensa.

Agora vem essa praxe de pegar material emprestado (foto, video, áudio, texto) com outros colegas. Um amadorismo que já é alvo de piada junto aos colegas da capital.

O que deveria ser uma exceção raríssima virou um comportamento sistemático. É uma completa suruba em que matéria de um vira matéria do outro sem acrescentar uma vírgula.

Não bastassem as ingerências empresariais e políticas diretas sobre a atividade nas redações, este comportamento dos profissionais completa a degradação do jornalismo.

Por fim, algumas assessorias de comunicação também contribuem com a degradação ao enviar áudio de "coletivas" em que só vão três. Ou seja, três se esforçam para ir e os outros preguiçosos recebem, sem esforço, o material no email. Fácil assim. Pior ainda, quando transformam a pauta em apuração de um colega em assunto de coletiva.

É preciso que os coordenadores, diretores, editores coloquem um basta nesta situação. Antes, seria interessante talvez um seminário em que os jornalistas da região se reunissem para uma reflexão do seu papel. O curso de Comunicação/Jornalismo do Unileste poderia se propor a promover isso.

O que querem os jornalistas de suas carreiras? Como sobreviver neste antro prostituído e degradado? Precisamos disso e do estabelecimento de diretrizes a serem cumpridas, de fato, sob pena de cairmos num descrédito sem precedentes. 

Comentários

  1. Caro amigo, Alex.

    Sou um radialista aposentado e já, há algum tempo,afastado do mercado de trabalho e daquela convivência nos bastidores, da qual tenho muitas saudades.

    Lendo sua matéria afluiu-me uma reflexão: É assim a vida. Sempre existiram os maus, os bons e os excelentes profissionais.

    Os excelentes servindo sempre de inspiração para os honestamente vocacionados e os maus..., bem os maus, digamos, estão em atividade porque nessa conversa têm que entrar os proprietários e os diretores dos nossos meios de comunicação.

    Pelo amor de Deus! Apresentou no ar uma reportagem assinada por uma concorrente? Sem destacar o crédito? É rua na hora!

    Mas quem são essas pessoas? Adquiriram uma Rádio, um Jornal porque são desse ramo, entendem do riscado? Ou por que têm un nível cultural que os possibilite estarem convencidos a praticar uma comunicação ética? Voltada para o desenvolvimento do povo e de toda a região a que serve? Da qual sobrevive?

    Ou ainda acharam que era bom negócio e dava muito dinheiro, prestígio, influência se manipulada demagogicamente? Politicamente? Religiosamente?

    Os exemplos vêm de cima. Quem não tem competência, administra com fraudulência e gera uma situação, decadente como esta, que você meu amigo, corajosamente destaca, denuncia e chama a patota para uma discussão, uma avaliação para o bem e credibilidade da própria categoria.
    .

    Como anda a nossa comunicação aqui no Vale do Aço incluindo o comportamento dos profissionais da área?

    Sabe Alex, a importância é maior ainda para aqueles que sabem do poder da imprensa para o desenvolvimento do Vale do Aço e para a formação de uma sociedade fraterna, honesta, sem chances para picaretagens.

    Está aberto o debate! Um abraço.

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  2. Respostas
    1. Saiu como anônimo porque eu não soube publicar de outra forma. Edmar Moreira é o meu nome. Polêmico o sobrenome. Saudações.

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  3. Preocupe-se não, a identificação de autoria estava no corpo da mensagem.

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