Retrocedemos meio século


É impressionante a “agilidade” da assessoria de comunicação de determinadas empresas. Não no sentido de assegurar uma resposta de forma a tornar plural uma informação que se pretende publicar. Não no sentido do cumprimento de uma questão de ordem, mas agilidade para um papel pouco nobre. Quando não é o público, é o privado.

- Não podemos assustar o eleitor e dar munição para os adversários.
- Não podemos assustar os investidores. Devemos respostas aos acionistas.

Com ligeiras variações, o manto da censura cobre corpos,  verdades, fatos e a realidade. E o mais curioso é ver que personagens partidários deste jogo de encobre, descobre, rondam comitês da verdade, da justiça, da cobrança pela falta punição, etc.

Pois imaginem o seguinte cenário. O repórter liga para pegar uma informação (que deveria ter chegado no dia anterior). O assessor engabela por mais de 20 minutos no telefone, fala até da vida pessoal, mas não responde.

Subterfúgios, justificativas, explicações. Dá dó. Se o repórter tiver R$ 10 reais no bolso, vai até o assessor correndo e lhe dá correndo o trocado para um café, de tanta pena.

Vinte e quatro horas se passaram sem respostas e o resultado da ligação é uma engabelação? Ainda a pensar sobre o que fazer com a matéria sem respostas, o repórter absorto em divagações é abordado pelo diretor menos de 35 minutos depois:

- Sabe aquela matéria sobre as mudanças estruturais e demissões naquela tal empresa?
- Ah sim, hoje falei com a assessoria.  Cobrei  a resposta que pedi ontem.
- Ah é? Com quem falou?.
- Com o passarinho.
- Com o passarinhoooo !!!
- É chefe.
- Bem, você sabe como é, certo? Isso pode atrapalhar a reunião de amanhã. Não vamos mexer com isso não.
- Então ta. Mas e o trabalho que já foi feito? Está aqui pronto, apurado.
- Bem, decidimos que isso não será publicado.

E assim, de galho em galho, retrocedemos meio século. Bem, pelo menos contam os que aqueles tempos viveram, que havia um mínimo de razoabilidade por parte de quem, sob a alegação da segurança nacional, decidia que algo não seria publicado.

Há uma frase que vem a calhar neste caso. Ela é atribuída a George Orwell: "Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade".


Por fim, a professora Maria de Lourdes Medeiros Bruno complementa. "A notícia não publicada desperta muito mais a atenção, que se volta para quem não deixou, impediu ou omitiu, porque o povo começa a perceber que foi enganado".

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