Alteridade

Alteridade é uma palavrinha danada de feia. Mas creio que as discussões sobre sua prática deveriam ser ressuscitadas, no momento em que em Brasília um deputado afirma que iniciou a luta contra a "ditadura gay". 

E os movimentos que defendem os gays e outros gêneros não heteros ganham a batalha aprovando direitos e mais mais direitos, inclusive o de reprimir quem se manifestar em público contra eles. 

E a voltar à alteridade, que passa longe dos dois lados que brigam na causa homo x heteros, as pessoas desatentas que ouvem o termo comumente o confundem com a palavra  autoridade. Mas a sua significação (à Ferdinand de Saussure) é inversamente proporcional a essa interpretação equivocada. 

Quem escuta essa palavra e busca saber o que é, caso lhe apareça estranha, vai encontrar explicações filosóficas - ou semânticas. 


O dicionário Aurélio, da Língua Portuguesa, por exemplo, restringe-se à semântica objetiva. "Substantivo feminino. Caráter ou qualidade do que é outro". As explicações filosóficas são mais interessantes. 





Creio que pode ser classificado como interessante o que cita Suelen Nery, Teóloga e Mestre em Filosofia, sobre alteridade, com base nos escritos pelo  filósofo contemporâneo Emmanuel Levinas.

"Não diz respeito somente à dimensão da responsabilidade por outro ser humano – dimensão ética. Alteridade é diferença e, nas relações, diz-se que é a capacidade de colocar-se no lugar do outro, ou, nas palavras de Frei Beto, é “ser capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua diferença. Quanto menos alteridade existe nas relações pessoais e sociais, mais conflitos ocorrem. A nossa tendência é colonizar o outro, a partir do princípio de que eu sei e ensino para ele – ‘ele não sabe; eu sei melhor e sei mais do que ele’”.

Para muitas pessoas é realmente difícil a percepção de um outro modo de ser e de executar tarefas. Existe, assim, a tendência de absolutizar o modo pessoal de ser, pensando ser este o único e correto modo de encarar o mundo e lidar com as situações. 

Levinas afirma que “toda forma de totalidade é violência”, ou seja, toda vez que desejamos colonizar o outro por meio da imposição de regras e pensamentos que são nossos e maneiras de fazer as coisas estamos praticando uma atitude de violação com respeito a esse outro. 

E é costume nosso agirmos desse modo, quando, na verdade, podemos mostrar a esse outro uma nova perspectiva sobre a vida, uma maneira diferente de agir em relação a ela, por meio do carinho, do amor e até mesmo da presença atenta e ouvinte. Permitir que esse outro exponha o que pensa sobre a vida e deixar que ele aja à seu modo é realizar o respeito à sua dignidade, à sua alteridade, assim como temos a nossa.

Comentários