Tem mais pela frente?

Havia um ar de constrangimento quando, na manhã de terça-feira, a cúpula da Polícia Civil entrou na sala do 12º Departamento da Polícia Civil, para apresentar aos jornalistas os resultados das investigações sobre nove crimes de execução no Vale do Aço, a maioria com suspeita de envolvimento de policiais civis e militares. 

Sob o foco das lentes de dezenas de câmeras da mídia local e estadual, tanto a chefia da polícia quando os delegados, que trabalharam nos crimes impunes, trataram de detalhar uma série de eventos para os quais ha muito tempo se esperava respostas.  

Entre nove crimes, sete estavam com autoria bem definida e somente um suspeito está foragido. De um total de 12 presos preventivamente, apenas dois não são policiais. 

O certo constrangimento observado no ambiente foi percebido por outros colegas também. É certo que as investigações, com uma sequencia ardilosa dos policiais vindos de Belo Horizonte, já têm sim, os nomes dos eventuais mandantes das mortes do repórter Rodrigo Neto e Walgney Carvalho, mas aguardam provas para que façam o anúncio. 

É humanamente inacreditável que uma investigação que seguiu uma linha científica, com detalhes revelados a remeter ao cinematográfico CSY, não tenha conseguido desvendar, por exemplo, a triangulação de ligações telefônicas dos dois acusados, para outras pessoas. 

Se eles fizeram 130 ligações telefônicas nos dias que antecederam os crimes e 200 depois, certamente, angularam informações com terceiros. Quem são os terceiros revelados pela quebra do sigilo telefônico?



Há observadores paralelos deste caso que apontam a possibilidade de envolvimento de políticos na decisão de se eliminar o “calo no sapato” deles, chamado Rodrigo Neto. Um leitor lembra que o repórter andava, ultimamente, muito próximo a políticos e poderia ter informações comprometedoras. 

Ademais a apresentação teve exageros. Alguns colegas enfiaram os pés pelas mãos e exageraram na dose de afirmações, ao invés de perguntas à cúpula da PC. Descontrole incomum.

Mas houve momentos positivos, como a cobrança pela responsabilização dos comandos, sobre os quais pesam indícios de saber de muitos dos crimes cometidos pelos subordinados. 

O fato de não terem revelado os nomes de quem mandou matar e por que mandou matar o repórter, não tira o mérito das equipes de investigadores e da corregedoria que esclareceram sete crimes, denunciados anos a fio pelo repórter executado. Pena que ele precisou morrer e o caso tenha virado um escândalo nacional, com repercussão internacional, para que fossem esclarecidos. 

Vem pela frente outro desafio, o de garantir que os bandidos sejam excluídos da polícia e paguem pelos crimes que cometeram.  

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