"A história que o Brasil não conhece"


Dizem por aí que esse documentário é "fake", uma comédia. Mas que vale a pena pensar sobre o tema, isso vale. É uma sátira, uma piada como uma charge na página de opinião de um jornal, aberta a milhões de interpretações.

Vivemos um empobrecimento musical "nunca antes visto na história deste país". Mas para quem vai ver o vídeo, fica a pergunta inserida nele: "O que foi que aconteceu com a música popular brasileira?". 



quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Pronta explicação e nenhuma providência

Quando era criança tinha medo de trovão. Morava no pé de uma serra. Quem já passou por uma tempestade em locais de maior altitude sabe do que falo.
O trovão nas regiões serranas não se espalha, como nos lugares planos. A sensação que se tem é que ele “estoura” bem perto da gente e ecoa pelos vales de pedras e matas acima.
O estrondo chega a fazer estalar as estruturas das fazendinhas. Quando era criança, enfiavam-me debaixo da cama, enquanto os raios tilintavam nas cercas de arame lá fora. Mas enfiar-me debaixo da cama gerava uma sensação de segurança até o fim da intempérie.
Foto Alex Ferreira - Cena de mais uma execução - no alto do bairro Jardim Panorama, Ipatinga, 06/01/2013
Brinquei recentemente, em uma rede social, que a situação do Vale do Aço estava de enfiar debaixo da cama, de tanta violência.
A diferença dos tempos de criança para esse é que, diferentemente das árvores e para-raios das cercas, que levavam as descargas atmosféricas lá no pé da serra, essa matança no Vale do Aço e outros lugares não encontra um mecanismo eficiente de defesa aparatada pelo Estado. Ninguém está seguro.
Assim, de execução em execução, de ocorrência em ocorrência, a lista estatística cresce e nada é feito. “O elemento tinha passagens” virou a pronta explicação para a maioria dos casos.   

domingo, 20 de outubro de 2013

Nova barbárie e o velho discurso

E o Vale do Aço acorda com mais uma tragédia em sua história. O caso de um comerciante de tradicional família, trucidado por três ladrões, suscitou novamente o debate sobre a necessidade de penas mais rigorosas para crimes bárbaros no Brasil.


E em meio a centenas de comentários de leitores dos jornais, sobram opiniões sobre o que fazer para reduzir a onda de violência - foram cinco mortes violentas somente neste fim de semana, na região.  
Foto: Wellington Fred - Crime bárbaro levantou novamente discussão sobre necessidade de leis mais rígidas
E, lá no meio das mensagens, surgem até os que encontraram um culpado pelo caos: os Direitos Humanos.  Isso mesmo, repetem, feito papagaios um surrado discurso contra os direitos humanos.

“O senso comum, de colocar a culpa da existência dos criminosos em movimentos como os direitos humanos virou uma catarse”, escrevi numa resposta ao post do amigo radialista Jeferson Rocha, em uma rede social.

Abrem falação sobre os direitos humanos sem sequer conhecer um pouco do verdadeiro trabalho de quem luta nas pastorais, nas comunidades de base, nos poderes constituídos, em alguns órgãos de classe, como a OAB ou mesmo a Cruz Vermelha, que leva ajuda humanitária aos civis nas regiões em guerra. 


Diferentemente do que querem disseminar, o movimento de direitos humanos não existe para defender bandido. Existe para que todos sejamos cidadãos. De fato, há alguns grupos que inspecionam presídios e o trabalho da polícia em relação aos presos para evitar abusos. Por si, isso não justifica essa falácia contra a totalidade do trabalho dos diretos humanos.




Esse discurso contra os direitos humanos confunde as coisas. Tira a responsabilidade do poder público e a repassa à sociedade. Isenta o Estado de suas responsabilidades constituídas em um contexto complexo, de leis falhas e um sistema penitenciário questionável. É mais fácil arrumar um alvo fácil para responsabilizar, em vez de pensar de forma mais complexa?

Caso funcionasse mesmo, o sistema teria corrigido o principal protagonista do bárbaro crime do comerciante Munir Augusto. O rapaz, de 21 anos, já pagou três anos de cadeia e confessou que já matou outras quatro pessoas. Entretanto, estava solto. Deveria ter ficado preso para sempre quando entrou no sistema. E não ficou porque uma lei falha o liberou.

O velho discurso do senso comum, originado em falas de programas televisivos de pouco compromisso ético, cria a falsa sensação que defender o direito das pessoas à alimentação, à vida, a um salário digno, a um sistema de ensino eficiente, ao consultório médico, aos medicamentos, é o mesmo que defender quem cometeu atrocidades. Não é. Mudem o discurso ou contenham-se na mediocridade.

domingo, 13 de outubro de 2013

Demanda e capacidade x especulação imobiliária

Conversava um dia desses com um amigo, formado em economia, e que atua no ramo imobiliário. Discutíamos sobre a crise no setor da construção civil em Ipatinga, criada a partir de 2009, quando uma decisão judicial precedida de um ajustamento de conduta entre a Administração Municipal de Ipatinga e a Promotoria de Justiça da Ordem Urbanística e Meio Ambiente, passou a estabelecer critérios restritivos para a liberação de alvarás para a construção de prédios com mais de três pavimentos.

A falta da conclusão da elaboração do Plano Diretor e suas leis complementares (entre elas a de uso e ocupação do solo) foi a causa inicial de todo o problema. Com a embromação dos governos Ferramenta e Quintão, entre 2000 e 2008, para concluir a legislação que trata da ordem urbana e a proliferação de verdadeiros “pombais” insalubres, amontoados uns sobre os outros em forma de prédios de apartamentos, coube ao Judiciário assumir um plano que deveria ser do governo municipal.

Apesar das restrições, nos últimos cinco anos foram licenciadas obras de dezenas de prédios de apartamentos. Esses predinhos, de no máximo quadro andares, acabam de ficar prontos aos montes e estão “pastilhados” de placas de vende-se e aluga-se.

A lista de imóveis à venda, ou para alugar, nos classificados dos jornais cresce assustadoramente. Caminhar pelas ruas de Ipatinga também traz uma certeza: há imóveis a sobrar na cidade. 

E não são vendidos nem alugados por uma razão muito simples. No bairro Iguaçu não se compra um apartamento de dois quartos, com direito a uma apertada vaga na garagem por menos de R$ 200 mil. No Cidade Nobre os preços navegam muito acima desse patamar. Se tiver suíte e duas vagas na garagem, o preço passa para a casa dos R$ 300 mil em diante.
Como dinheiro não brota em qualquer esquina, investidores amargam mercado imobiliário desaquecido por causa de preços injustificáveis
Está aqui, em um classificado de uma imobiliária: “Vende-se lote na rua Pedras Preciosas, Iguaçu: R$ 750 mil”. E outro: “Apartamento 3 quartos, fino acabamento, Cidade Nobre, R$ 560 mil”. "Alugo casa 3 quartos, sendo uma suíte, no Imbaúbas: R$ 1.200". E assim segue a carestia, que só arrefece um pouco quando chegam-se aos apartamentos do bairro Cidade Nova (Santana do Paraíso), oferecidos a preços a partir de R$ 110 mil, financiáveis pelos programas populares do governo, mas pouco maiores do que uma barraca de camping.

O amigo economista afirma que essas aberrações não podem ser atribuídas ao imbróglio com o Plano Diretor de Ipatinga. Ele cita que é muito claro o desentendimento que os investidores fazem sobre o significado exato do termo “demanda”.

A demanda, explica, não significa apenas vontade, necessidade por algo (em torno de 10 mil pessoas precisam comprar imóveis em Ipatinga), mas também capacidade. Para conceituar demanda são necessários dois fatores: vontade e capacidade. Apenas a vontade não quer dizer nada. Vontade não é demanda, pois se fosse assim a demanda por Ferrari, LearJet e Porsche seria praticamente toda a população do planeta.

Demanda é vontade juntamente com a real capacidade de aquisição de um bem. E em Ipatinga não houve aumento da capacidade de compra real, apenas crédito fácil, como ocorreu em todo o Brasil. Como nem todos têm a necessária educação financeira, usaram e abusaram das ofertas de crédito, um risco enorme para a economia.

O fato é que a renda não aumentou na mesma proporção dos aumentos dos preços dos imóveis nas décadas anterior e atual e isso já caracteriza a sobre oferta de imóveis prontos e loteamentos que não decolaram, como a “cidade” Parques do Vale, na saída para Caratinga, jocosamente chamada por muitas pessoas de Alexandria.

Quem construiu pensando em ficar rico, enganou-se. Quem abriu mega loteamentos prometendo verdadeira cidade de Alice no País das Maravilhas, perdeu o bonde da história quando a siderurgia mergulhou numa crise sem precedentes a partir de 2008 com a sobre oferta mundial de aço. Enquanto isso, quem investiu na fábrica de plaquinhas de vende-se e aluga-se deve ter faturado um bom dinheiro.

sábado, 5 de outubro de 2013

Ambiente sujo, textos limpos

Dia desses conversava com colegas que vieram me perguntar se eu, como alguns jornalistas mais antigos, tenho saudades das redações dos velhos tempos. Expliquei que peguei o finzinho dessa etapa, em que se produzia no meio do caos.
Carece explicar que as redações dos jornais, médios ou grandes, em sua maioria, eram ambientes praticamente insalubres. Havia mesmo os grandes jornais que já primavam pelo ambiente saudável, mas isso não era o mais comum de se ver.
Não raro, latas de cerveja, cinzeiros cheios, garrafas de destilados vazias, xícaras com uma nata seca de café no fundo e pontas de baseados misturavam-se entre carretéis de fita para máquina de escrever, canetas, lápis, laudas amassadas com textos infrutíferos e sabe-se mais o que.
Que ninguém se assustasse se, numa manhã fria, fosse encontrado algum jornalista enrolado num cobertor a dormir num canto de redação. Podia ser porque terminou muito tarde o trabalho e o cansaço o derrubou ali, ou, porque, bêbado depois de horas num bar da esquina próxima, não teve condições de ir para a casa distante.
Mas, no meio desse caos, surgiram textos primorosos, alguns desses que ainda podemos ler em livros ou arquivos históricos. Não vivi isso, colegas. Quando cheguei a uma redação encontrei os últimos boêmios. Ainda trabalhava-se mais à noite do que durante o dia, mesmo em um jornal periódico. Mas, em 1989, já se pensava em textos curtos, objetivos.
Nessa época, assim como se extinguiam as zonas boêmias, os ambientes de alto e baixo meretrício nas cidades, também chegava a assepsia às redações. Parece que o advento do telex eletrônico, do fax, e, posteriormente, do computador, não combinou com as impurezas no ambiente redacional. Da mesma forma, não combinou a era da Aids com a existência dos prostíbulos.
Uma redação de jornal nos anos 1970 - organização era rara em época de textos primorosos
E o barulho? A concentração era em meio ao estalar de braços metálicos das máquinas que levavam as fontes para as fitas e delas para o papel no cilindro. Ao fim da margem da folha era preciso voltar o “carro” da máquina ao ouvir o tilintar de uma campainha. O “pléiiiiiim” das Olivetti antigas era maravilhoso.
Cada máquina tinha um estalar diferente, particular. Era como uma impressão digital. Era fácil distinguir onde estava uma Olivetti ou uma Remington.
Os telefones, para raros casos de apuração à distância, eram péssimos. Se conseguisse estabelecer uma boa ligação, o repórter ainda precisava gritar para que fosse ouvido.
Você consegue imaginar uma redação/diagramação sem Photoshop, Ilustrator, InDesign, Corel Draw?
Sumiram as máquinas de escrever. Telefones ganharam fones de ouvido. Em cada mesa ou biombo de redação, telas de Led cada vez maiores assumiram o lugar do visual decadente do passado. O silêncio substituiu o caos e os textos tornaram-se cheios de impurezas. Não sei se tenho saudades dos outros tempos.

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O autor

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Ipatinga, Minas Gerais, Brazil
Jornalista. Atuação em rádio, jornal, revista e webjornalismo. Graduado em Comunicação Social - Jornalismo - pelo Unileste.


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