Dia desses conversava com colegas que vieram me perguntar se
eu, como alguns jornalistas mais antigos, tenho saudades das redações dos
velhos tempos. Expliquei que peguei o finzinho dessa etapa, em que se
produzia no meio do caos.
Carece explicar que as redações dos jornais, médios ou
grandes, em sua maioria, eram ambientes praticamente insalubres. Havia mesmo os grandes jornais que já primavam pelo ambiente saudável, mas isso não era o mais comum de se ver.
Não raro, latas de cerveja, cinzeiros cheios, garrafas de
destilados vazias, xícaras com uma nata seca de café no fundo e pontas de
baseados misturavam-se entre carretéis de fita para máquina de escrever,
canetas, lápis, laudas amassadas com textos infrutíferos e sabe-se mais o que.
Que ninguém se assustasse se, numa manhã fria, fosse
encontrado algum jornalista enrolado num cobertor a dormir num canto de redação.
Podia ser porque terminou muito tarde o trabalho e o cansaço o derrubou ali, ou,
porque, bêbado depois de horas num bar da esquina próxima, não teve condições
de ir para a casa distante.
Mas, no meio desse caos, surgiram textos primorosos, alguns
desses que ainda podemos ler em livros ou arquivos históricos. Não vivi isso,
colegas. Quando cheguei a uma redação encontrei os últimos boêmios. Ainda trabalhava-se
mais à noite do que durante o dia, mesmo em um jornal periódico. Mas, em 1989,
já se pensava em textos curtos, objetivos.
Nessa época, assim como se extinguiam as zonas boêmias, os
ambientes de alto e baixo meretrício nas cidades, também chegava a assepsia às
redações. Parece que o advento do telex eletrônico, do fax, e, posteriormente,
do computador, não combinou com as impurezas no ambiente redacional. Da mesma
forma, não combinou a era da Aids com a existência dos prostíbulos.
Uma redação de jornal nos anos 1970 - organização era rara em época de textos primorosos |
E o barulho? A concentração era em meio ao estalar de braços
metálicos das máquinas que levavam as fontes para as fitas e delas para o papel
no cilindro. Ao fim da margem da folha era preciso voltar o “carro” da máquina
ao ouvir o tilintar de uma campainha. O “pléiiiiiim” das Olivetti antigas era
maravilhoso.
Cada máquina tinha um estalar diferente, particular. Era
como uma impressão digital. Era fácil distinguir onde estava uma Olivetti ou uma Remington.
Os telefones, para raros casos de apuração à
distância, eram péssimos. Se conseguisse estabelecer uma boa ligação, o
repórter ainda precisava gritar para que fosse ouvido.
Você consegue imaginar uma
redação/diagramação sem Photoshop, Ilustrator, InDesign, Corel Draw?
Sumiram as máquinas de escrever. Telefones
ganharam fones de ouvido. Em cada mesa ou biombo de redação, telas de Led cada
vez maiores assumiram o lugar do visual decadente do passado.
O silêncio substituiu
o caos e os textos tornaram-se cheios de impurezas. Não sei se tenho saudades
dos outros tempos.
Tem que ter saudade sim, Alex. Era preferível que profissionais vivessem nesse antro de impurezas, do qual fala em seu artigo, mas que informavam e divertiam o público (conforme o caso). Do que adianta telas de led e ambiente asseptico, com tantos textos que publicam atualmente, sem nada informar? Como diz um institucional "informação é aquilo que você ainda não sabe, ainda".
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