Nova barbárie e o velho discurso

E o Vale do Aço acorda com mais uma tragédia em sua história. O caso de um comerciante de tradicional família, trucidado por três ladrões, suscitou novamente o debate sobre a necessidade de penas mais rigorosas para crimes bárbaros no Brasil.


E em meio a centenas de comentários de leitores dos jornais, sobram opiniões sobre o que fazer para reduzir a onda de violência - foram cinco mortes violentas somente neste fim de semana, na região.  
Foto: Wellington Fred - Crime bárbaro levantou novamente discussão sobre necessidade de leis mais rígidas
E, lá no meio das mensagens, surgem até os que encontraram um culpado pelo caos: os Direitos Humanos.  Isso mesmo, repetem, feito papagaios um surrado discurso contra os direitos humanos.

“O senso comum, de colocar a culpa da existência dos criminosos em movimentos como os direitos humanos virou uma catarse”, escrevi numa resposta ao post do amigo radialista Jeferson Rocha, em uma rede social.

Abrem falação sobre os direitos humanos sem sequer conhecer um pouco do verdadeiro trabalho de quem luta nas pastorais, nas comunidades de base, nos poderes constituídos, em alguns órgãos de classe, como a OAB ou mesmo a Cruz Vermelha, que leva ajuda humanitária aos civis nas regiões em guerra. 


Diferentemente do que querem disseminar, o movimento de direitos humanos não existe para defender bandido. Existe para que todos sejamos cidadãos. De fato, há alguns grupos que inspecionam presídios e o trabalho da polícia em relação aos presos para evitar abusos. Por si, isso não justifica essa falácia contra a totalidade do trabalho dos diretos humanos.




Esse discurso contra os direitos humanos confunde as coisas. Tira a responsabilidade do poder público e a repassa à sociedade. Isenta o Estado de suas responsabilidades constituídas em um contexto complexo, de leis falhas e um sistema penitenciário questionável. É mais fácil arrumar um alvo fácil para responsabilizar, em vez de pensar de forma mais complexa?

Caso funcionasse mesmo, o sistema teria corrigido o principal protagonista do bárbaro crime do comerciante Munir Augusto. O rapaz, de 21 anos, já pagou três anos de cadeia e confessou que já matou outras quatro pessoas. Entretanto, estava solto. Deveria ter ficado preso para sempre quando entrou no sistema. E não ficou porque uma lei falha o liberou.

O velho discurso do senso comum, originado em falas de programas televisivos de pouco compromisso ético, cria a falsa sensação que defender o direito das pessoas à alimentação, à vida, a um salário digno, a um sistema de ensino eficiente, ao consultório médico, aos medicamentos, é o mesmo que defender quem cometeu atrocidades. Não é. Mudem o discurso ou contenham-se na mediocridade.

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