Quando era criança tinha medo de trovão. Morava no pé de uma
serra. Quem já passou por uma tempestade em locais de maior altitude sabe do
que falo.
O trovão nas regiões serranas não se espalha, como nos
lugares planos. A sensação que se tem é que ele “estoura” bem perto da gente e
ecoa pelos vales de pedras e matas acima.
O estrondo chega a fazer estalar as estruturas das
fazendinhas. Quando era criança, enfiavam-me debaixo da cama, enquanto os raios
tilintavam nas cercas de arame lá fora. Mas enfiar-me debaixo da cama gerava
uma sensação de segurança até o fim da intempérie.
Foto Alex Ferreira - Cena de mais uma execução - no alto do bairro Jardim Panorama, Ipatinga, 06/01/2013 |
Brinquei recentemente, em uma rede social, que a situação do
Vale do Aço estava de enfiar debaixo da cama, de tanta violência.
A diferença dos tempos de criança para esse é que, diferentemente
das árvores e para-raios das cercas, que levavam as descargas atmosféricas lá
no pé da serra, essa matança no Vale do Aço e outros lugares não encontra um
mecanismo eficiente de defesa aparatada pelo Estado. Ninguém está seguro.
Assim, de execução em execução, de ocorrência em ocorrência,
a lista estatística cresce e nada é feito. “O elemento tinha passagens” virou a
pronta explicação para a maioria dos casos.
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