É preciso arrumar um culpado para tudo?

Tenho observado que muitas pessoas gastam uma parcela considerável do seu tempo para encontrar culpados. Ocorre que, às vezes, essa busca redunda em resultados esdrúxulos. Vejamos.

Na busca simplista de explicações para fenômenos sociais, comportamentos de indivíduos ou grupos, reações adversas da natureza, acidentes acontecidos nas mais variadas circunstâncias, encontrar culpados é uma necessidade obrigatória desses tempos esquisitos. E muitos gostam de fomentar ideias em torno do lado mais fraco, mais à mão.

Não é diferente quando se trata do avanço das estatísticas criminais. Na semana que passou acompanhei “absurdado”, explanações  de um membro de importante mecanismo de defesa social, acerca da onda de crimes violentos contra a vida, tráfico de entorpecentes e crimes contra o patrimônio.

Em resumo, afirmou a autoridade que a presença constante de notícias dos crimes gera a sensação de insegurança na população. Não creio. A sensação de insegurança é oriunda de um fato consumado, a ocorrência constante e diária destes crimes. 

É uma questão matemática. Quanto mais pessoas atingidas, mais pessoas tomam conhecimento e menos seguras elas se sentem. Ainda bem, porque com a sensação de insegurança as pessoas adotam medidas de autoproteção.  

Para se ter noção do quadro, enquanto a palestra era proferida, dois assaltantes, um deles armado com um revólver, invadiram a Fox Turismo, na João Valentim Pascoal, Centro de Ipatinga, bem perto de onde estavam reunidos empresários e autoridades policiais para debater crimes contra o patrimônio, renderam gerente e proprietário da empresa e levaram R$ 5 mil em dinheiro.

No mesmo dia foram registrados, um roubo à mão armada na avenida Santa Helena, bairro Novo Cruzeiro, um roubo à mão armada em um salão de beleza, atacado por uma dupla armada na avenida Gerasa - bairro Bethânia, e outro assalto a uma loja de peças, na rua Von Goeth,  Cidade Nobre, também atacado por uma dupla armada.
 
Campanha publicitária para um torneio de futebol. Esporte da massa, entorpecimento.
É tolice pensar que a sensação de insegurança será revertida a um estado de tranquilidade quando ganhar o topo das manchetes as ações bem sucedidas de combate ao crime. 

Prende-se um ou outro criminoso, enquanto a maioria passa incólume e continua a avançar sobre as pessoas. E os que são presos ficam pouco tempo trancafiados. Beneficiados por um arcabouço jurídico caduco, os infratores voltam para a rua sem qualquer recuperação. Pelo contrário, cadeia no Brasil virou uma espécie de graduação na carreira criminosa.

Ademais seria interessante que os críticos de mídia - papel que assumiu alguns homens que deveriam primar somente pela segurança pública - entendessem o papel funcional da comunicação, que, como um órgão no corpo humano, “grita” quando algo vai errado no corpo orgânico. A cabeça não dói quando está tudo em ordem, correto?.

Relatar fatos, alertar sobre o que está errado no corpo social é função da comunicação. E cabe à comunicação, somente a ela, decidir como fazê-lo.

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