Ninguém sabe qual é a saída

O trágico episódio deste sábado, quando dois jovens “vida loca” decidiram roubar um carro em Iapu e seguir em uma fuga ensandecida pela BR-458 sentido a Ipatinga até que tudo acabou em um violento acidente com um deles mortos, é representativo de uma época em que pessoas decidiram desvalorizar a vida.
Pirados: jovens bateram em caminhão boiadeiro carro roubado em Iapu. Um deles (15 anos), morreu. Outro, apenas ferido, foi preso. Cinco bois foram carbonizados no incêndio que se seguiu à colisão. Condutor, de 17 anos disse que não se lembrava da decisão de jogar contra o caminhão, em alta velocidade, o carro que ele dirigia. Para polícia, objetivo deles era chegar a Ipatinga e vingar a morte de outro amigo deles, ocorrida na madrugada de sábado.
Ao redigir sobre a tragédia de sábado para o jornal em que trabalho lembrei-me de outro caso que presenciei. Era fim de dezembro de 2013 e havia acabado de estacionar na avenida Londrina, bairro Veneza II,quando um adolescente em uma bicicleta dessas que eles gostam, de guidão alto, levando outro na garupa, avançou repentinamente para a pista e quase a dupla fora atropelada por um carro.

O motorista desviou habilmente, eles gangorraram de lado a outro e prosseguiram. Eu, de cabelo em pé gritei:

- Desse jeito vai morrer aí, véi.
No que o “mano” na condução da bicicleta respondeu.
- Dá nada não. Todos vamos morrer mesmo.

Isso, vindo de qualquer pessoa já seria assustador e preocupante, mas, vindo de um jovem, que não aproveitou quase nada da vida é aterrador.

Os jovens de hoje pulam etapas da existência na terra Nem sequer saíram da infância e já vivem como adolescentes e nem curtiram essa fase bacana da vida e já são jovens que se sentem adultos realizados sem se importar com a morte.

No perfil que o jovem Yuri, morto na tragédia de sábado, mantinha na internet, há uma série de imagens associadas ao Coringa, personagem vilão do filme Batman.

Coringa é um ícone para aqueles que vivem no mundo do crime. Pois na página e Yuri há uma montagem destacada por ele em que aparece uma inscrição com o resumo da própria vida do ipatinguense: “Jovens como eu vivem pouco, mas vivem como querem”.

Curiosamente, em várias fotos ele aparece empunhando um revólver ao lado dos amigos. Às vezes essa arma está na cintura. Provavelmente foi o mesmo revolver encontrado ao lado do banco do carona do carro carbonizado e dos restos mortais do jovem.

Nesta cena, em vez das fotos com ar de arrogância e poder, apenas o fêmur jazia entre as cinzas do CrossFox roubado de uma mulher em Iapu.
Carbonizados juntos: Revólver usado por jovem em fotos nas mídias sociais foi encontrado carbonizado ao lado dos ossos de sua perna, em carro roubado em Iapu

Houve um tempo em que a religião foi usada como instrumento de controle e de incentivo das pessoas a tomarem o caminho do bem. O destino de todos estava dividido entre o céu e o inferno, o bem e o mal.

Com o livre arbítrio, as pessoas escolhiam entre deus e o diabo. Se isso funcionou durante muitos séculos, hoje não faz mais sentido algum.   

Há os que defendem leis mais rigorosas. Alguns positivistas jurídicos chegam a defender a pena de morte para os crimes mais graves. Outros afirmam que a redução da maioridade penal dos 18 para 16 anos é necessária.

Sem entrar no mérito de cada uma das bandeiras quero lembrar que o Brasil tinha, até o fim de mês de março, 574 mil pessoas presas e um sistema prisional falho e superlotado. Pior, o portal do Conselho Nacional de Justiça informava que o país tinha outros 364.385 mandados de prisão em aberto.

É, nesse contexto, ninguém sabe qual é a porta de saída dessa situação degradante.

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