Sequestro de tempo

O tempo anda tão apertado, que se pudesse dobrar as 24 horas do dia ainda seriam insuficientes. É uma tal de reunião pra cá e reunião pra lá, enquanto os fatos não param. 

Com um olho no peixe e outro no gato tratamos de garantir o ganha-pão diário, mas não está mesmo fácil.  Imagina então para quem não consegue se desligar do mundo virtual?

É por isso que as vezes passo dias sem vir ao Observador. Vou acumulando numa gavetinha imaginária as observações, minhas e dos amigos, que depois são trazidas aqui. 

É verdade que muitos de vocês gostam do que vejo e sobre essas coisas escrevo. Meus sinceros agradecimentos. E sei também que aqui vêm os invejosos, os frustrados e os censuradores.  Desculpem, mas, para esses, estou ocupado demais. 

Hoje vou falar de uma mania de muitos. É o tal do registro de tudo o tempo todo. Parece que as pessoas criaram uma dependência na seguinte relação e proporção. Se vou, tenho que filmar/fotografar e depois mostrar para os amigos. Ou supostos amigos, nas mídias sociais.  

Eis que numa dessas situações, uma amiga foi ao show da banda mineira Skank, por ocasião das comemorações dos 80 anos da Federação das Indústrias de Minas Gerais, e me relata o seguinte. 
Show do Skank (31/05) - Sobrou mão com telefone e faltou visão para quem queria ver a apresentação
Ela ficou impressionada com uma pá de gente que  não viu o show nem deixou que outros vissem, pois essa gente passou 101% do tempo da apresentação com um smartphone na mão, ligado, a filmar/fotografar o show. 

E agora outro amigo me relata que nem na hora da homilia na missa de domingo, algumas pessoas deixam de lado o “zap-zap”.  Não fui ao show do Skank, pois comemorava o aniversário de um amigo com um churrasco e tampouco vou à missa. Mas acredito nos dois relatos. Mesmo porque já vejo algo parecido. As pessoas agora falam o tempo ao telefone enquanto dirigem e motociclistas já digitam no WhatsApp enquanto pilotam moto. 

Eles não se dão conta que perdem tempo e arriscam perder também a vida. Perdem tempo, porque por mais moderno que seja o smartphone, jamais vai conseguir capturar, em pé, no meio do povo, uma imagem estável, de qualidade visual interessante e som equalizado. Desta forma, não veem nem o show nem gravam algo prestável. 

Estou confiante que ganhamos toda vez que desligamos essa parafernália toda e vamos curtir o tempo real, presencial.  A tecnologia nos transforma  em escravos, sequestra nosso precioso tempo e nos devolve um lixo inaproveitável.

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