Guerrilha digital em “terra de noca”

Ainda vai demorar um bom tempo, e talvez nunca ocorra, que a internet seja, de fato, um meio democrático e confiável de comunicação. Consolidada nas eleições gerais de 2014, no Brasil, como um espaço de debate político e partidário, a internet acabou tomando um caminho perigoso e teve desviado o seu foco, o de informar. 

Se antes, era difícil identificar nos meios convencionais o que era falso, mal apurado ou equivocado, direcionado ou tendencioso, na internet esses defeitos ganham contornos ainda maiores. 

Terra de ninguém, ou, como dizem em tom chulo lá pelas bandas da Bahia, “terra de noca”, a internet virou um universo de doidivanas. Um palco perfeito para quem quer aparecer das formas mais inusitadas possíveis, plantar mentiras e, no contexto, um péssimo lugar para se informar, se o internauta for um desavisado.

Dia desses entrevistava o colega, jornalista,  Hermes Quintão, que atualmente também estuda Direito. Hermes lembrava que grande parte do conteúdo disseminado por meio da internet carece de lastro com a realidade, com a verdade.

Também lembrou o jornalista que os próprios partidos políticos envolvidos em disputas eleitorais tratam de postar e fomentar a circulação de informações distorcidas. Essa “viralização” da mentira é um atentado à democracia, sentenciou o colega jornalista.

Pois foi exatamente o que ocorreu. Uma parcela considerável dos eleitores foi para as urnas e votou com base em inverdades, que repetidas milhões de vezes, ganharam status de verdade.
Apontada como solução para a comunicação, internet virou terra de ninguém

O próprio uso que as pessoas fazem da web, ao postar informações sem confirmação sem o mínimo de apuração trata de degradar o meio. Quer um exemplo? Domingo, dia 12 de outubro postaram que o Parque Estadual do Rio Doce era palco de um incêndio em frente ao bairro Cariru, em Ipatinga. Em minutos, a mensagem estava curtida, comentada e compartilhada com várias pessoas. Cada um xingava alguém e lamentava a destruição da natureza, etc.  

Fui pessoalmente ao local apurar o caso. Havia mesmo um foco de incêndio, mas distante mais de quatro quilômetros da unidade de conservação. O fogo era em uma floresta de eucaliptos da Cenibra, do outro lado do rio Doce, em frente ao bairro Castelo.

Muito embora o Marco Civil da Internet tenha caminhado no sentido de responsabilizar o conteúdo irresponsável na rede, na prática, a punição para quem dissemina o preconceito, as calúnias e conteúdo inverídico, não se concretizou, como em muitos outros casos no arcabouço jurídico do país.

Que papel cabe aos usuários? Muito pequeno, mas essencial para não cair no ridículo de acreditar em mentiras e disseminá-las. É preciso escolher melhor por onde se navega e com quem interage. Desconfiar, desconfiar e desconfiar e, por fim, saber se mais de um portal renomado publica a mesma informação.  

Foi assim que as pessoas descobriram que era inverídica a informação da morte do doleiro Alberto Youssef, réu na Operação Lava-Jato. A mensagem circulou aos milhões via Whatsapp e mídias sociais em pleno dia de votação, com nítida intenção de interferir na decisão do eleitorado. A origem da mensagem falsa ainda é apurada, claro, com chances reduzidas de sucesso no deserto saariano da web. 

Comentários

  1. Para mim, as redes sociais é que são os canais para a disseminação de lixo mediático. É lá que a maioria analfabeta insere, compartilha e curte conteúdoinverídico. Abraço, Mariane.

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