O panetone e o tempo de tudo, inclusive de parar

Adoro panetone. Espero, ansioso, pela chegada da iguaria no fim de cada ano para poder saboreá-la. Não compro das marcas mais famosas, mas sim, daquelas que se dedicam mais a fabricar o pão da melhor forma possível.
 
Fico a pensar como deveriam ser os panetones, quando surgiram. Uma das versões indica que o pão foi criado por um padeiro chamado Toni, empregado da padaria Della Grazia, em Milão, na época de Ludovico, o Mouro (1452 – 1508).
 
O jovem queria impressionar o patrão, pai de uma moça de quem gostava, e inventou o pão doce com frutas secas. A ser essa, a verdade sobre a origem do Pani de Toni, que feliz herança essa paixão nos deixou.
 
E a chegada dos panetones às gôndolas é sinal do fim de um tempo. O pão doce nos remete ao fim de um período que recortamos no tempo e chamamos de ano. Doze meses separam o começo e o fim desse período, prazo mais que suficiente. Será que o sabor da baunilha da massa é capaz de superar os amargores, decepções e traições que suportamos um ano inteiro?

 
Atribulações deste “fim de tempo” me afastaram de muitas coisas das quais gosto, inclusive desse minifúndio cibernético. Queria ter vindo aqui antes, escrever, por exemplo sobre a partida do empresário Alexandre Torquetti, ocorrida em 6 de novembro.
 
Falo brevemente sobre ele. Era uma tarde abafada e meio chuvosa de 2007, ano em que tinha mudado de emprego e fui cobrir um evento na área interna da antiga Arcelor Mittal, hoje Aperam South America, em Timóteo.
 
Antes da solenidade, com câmera pendurada e gravador na mão, tive uma conversa com o lendário empresário do setor metalomecânico, afinal, jornalista não pode perder a oportunidade para falar com determinados personagens em eventos públicos.
 
Além de tratar dos números, da política e da economia brasileira daquele ano, o empresário também explicou que estava se afastando cada vez mais dos negócios. Naquela época, as atividades da Emalto já estavam encampadas pelos filhos, herdeiros de uma consolidada empresa, nos trilhos de uma diversificação de produtos.
 
E me lembro bem de uma afirmação dele, que resumo da seguinte forma: “É preciso repassar o bastão. Nem sempre o tempo nos permite compreender determinadas necessidades e mudanças, que nos atropelam. Preciso desse tempo para me dedicar, agora, aos meus netos, minha família e, portanto, a mim mesmo”.
 
E assim o fez até seus últimos dias. Incluiu entre as atividades uma escola de música, mantida pela Fundação Emalto. Era músico, trompetista, e deixou como herança a Banda Ema. A escola tem como um dos professores meu amigo, Ivenilton Amorim Conceição, exímio violonista.   
 
Um exemplo, esse senhor que foi virar empresário depois de se aposentar na antiga Acesita. Saber dividir bem o tempo, viver bem cada etapa, é algo que honra as pessoas. Honesto é aquele que sabe a hora de chegar e a hora de partir. Nenhuma história é completa se não tiver começo, meio e fim.
 
É notório que, quando insistimos contra o tempo, e atropelamos a compressão das coisas novas que ele nos traz, coibimos o fim de uma etapa. Não deixamos uma receita do Toni a ser lembrada e degustada, nem uma Banda Ema para apresentar-se com júbilo.

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