Água, água, água !

Com mais de um metro de água abaixo do que seria o seu nível normal, a Lagoa Dom Helvécio, a maior do Parque Estadual do Rio Doce e uma das maiores das cerca de 150 lagoas naturais do Vale do Aço, é uma prova viva que o Brasil enfrenta uma das piores secas em 80 anos.

Mas, se está ruim onde tem preservação ambiental, então, onde a natureza foi devastada, a situação é de crise instalada.

Os moradores da maior metrópole da América Latina, São Paulo, foram os primeiros a sentir o impacto da seca, que até então conheciam somente pelos noticiários nordestinos. Em escala menor, moradores de outros lugares do país experimentaram, de alguma forma, os efeitos da mudança no clima, que é sazonal.
 

Praia da Lagoa Dom Helvécio, no Parque Estadual do Rio Doce, Marliéria. Nativos dizem que não se lembram de ter visto a água em nível tão baixo como está agora,em 2014

O diretor do Departamento de Hidrologia da Faculdade de Engenharia da Unicamp, Antônio Carlos Zuffo, explica que a estiagem é cíclica e pode durar pelos próximos dois anos.

“Entre as décadas de 1930 e 1960, o Cantareira (sistema hídrico que abastece a grande São Paulo) passou por um período de seca. Depois veio um período menos seco, o que transmitiu uma falsa sensação de segurança”, lembrou.

Outro estudo aponta que, para recuperar os níveis hidrológicos de 2013, seria necessário que chovesse durante dois anos, algo em torno de 2 mil milímetros. A título de comparação, quando chove 60 mm no Vale do Aço, as cidades quase param. Dois mil milímetros seria, então, uma catástrofe. As perdas humanas seriam inevitáveis. Os prejuízos, maiores do que os provocados pela ratazana que assola a Petrobras.



Especialistas em hidrologia dizem que para nível de água voltar ao normal em várias partes do Brasil seria necessário chover 2 mil milímetros em dois anos, valor astronômico. Então, vem mais seca pela frente.

O fato é que os brasileiros, acostumados com a fartura, já começam a experimentar a carência de um produto vital, que já falta em grande parte do planeta, a água potável.

Por fim, em setembro de 2014 voltei ao lugar onde fui criado, na base de uma serra, cujas encostas estão agora cobertas por plantações de café, lá em Manhuaçu. E vi com os olhos esbugalhados, que a terra seca há de comer, que um córrego limpo e caudaloso que embalou sonhos de juventude numa cachoeirinha a 300 metros da fazendinha onde cresci, hoje não passa de um regato tão pequeno que a queda na pedra não provoca mais barulho.

Levantei os olhos e vi que lá no alto da serra do Coqueiro já não existem mais as matas de topo. Poderia ter ido lá para conferir que as nascentes do sopé da serra também secaram, mas o corgozinho vazio cá embaixo, já tinha a resposta. Essa é a fatura pelo desequilíbrio chega agora, com uma cobrança cruel, por todos os lados. Até quando a humanidade vai perambular pela superfície da terra, como a ferrugem sobre o ferro?



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