Autoridade não é autoritarismo

Lia, na manhã de quarta-feira, 10/12/2014, as dezenas de comentários dos internautas sobre o episódio da prisão de um entrevistado dentro do estúdio da Rádio Itatiaia, em Belo Horizonte. Grande parte defendia a ação dos dois policiais que invadiram o estúdio da Rádio Itatiaia para prender o entrevistado, marido de Flávia Renata Oliveira Silva Cruz, vereadora de Confins que já tinha sido detida na operação Lavagem III da Polícia Civil.
 
Armando Júnior Pereira da Cruz, concedia entrevista ao jornalista Eduardo Costa no programa Chamada Geral, justamente para denunciar abusos praticados pelo delegado que preside o inquérito. Às 13h50 foi preso dentro do estúdio, quando em um intervalo do programa, os policiais entraram. 
 

Os policiais disseram que tinham mandado de prisão para Armando, mas não o apresentaram. Passaram pela portaria da emissora e foram para o estúdio, onde interromperam o programa e efetivaram a prisão, sob protestos, no ar, do apresentador. Eduardo Costa é um dos mais renomados profissionais do rádio em MG. 

Talvez, cegos por uma vontade de energia contra os atos de corrupção, os internautas não tenham parado para avaliar melhor a situação, só pode ser isso. Defender invasão de propriedade privada, inclusive veículo de comunicação para prender um cidadão que poderia ser preso em via pública, ao sair da emissora, é, no mínimo falta de bom senso. No máximo, uma ação que atropela o direito constitucional e desrespeita as instituições. Seria uma surpresa, mas a origem de onde veio esse desrespeito não chega a ser um susto.

Lembro-me inevitavelmente do repórter Rodrigo Neto, assassinado em Ipatinga, justamente por denunciar abusos, negligência, corrupção e por saber demais sobre os bastidores apodrecido das instituições policiais. 

Por fim, replico parte do que escreveu, sobre o assunto, o próprio jornalista Eduardo Costa, que se viu envolvido nessa ocorrência atípica, em Belo Horizonte. 

“Nunca havia visto aquele preso antes, não sei nada da vida dele e nem da companheira. Nunca vi os dois policiais. Mas, fiquei numa tristeza! Encerrei o programa, entrei no carro e dirigi por meia hora, para outro compromisso e também para assimilar o que acontecera”.

“O que dói não é a desnecessária pressa dos agentes da lei. É pensar que se eles – que são da inteligência da Polícia Civil – agem assim, imagina outros, de operações. O que mexe com os nervos é pensar que, se isso acontece no estúdio de rádio mais famoso do Estado, o que não ocorre nos barracos humildes de vilas e favelas. O que estragou o dia foi trocar elogios a um trabalho bem feito contra a roubalheira pela linha tênue que separa a autoridade do autoritarismo”.

 

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