Trabalho de jornalista em palco de tragédia

Avaliava com amigos jornalistas, que o acidente de sábado (13 de dezembro de 2014), no Morro da Usipa (Ipatinga), foi um dos maiores já registrados na área urbana do Vale do Aço. 

Contam os antigos moradores daqui que, no fim da década de 1960, um caminhão carregado com botijas de gás explodiu no Caladinho do Meio, mas o impacto não foi tão grande quanto esse, de agora.  

No acidente do dia 13 foram três vidas perdidas, duas pessoas feridas, dois carros (Cruze e Fiesta) e uma moto (Honda Bros) carbonizados com as chamas da “cascata de fogo” que se formou no asfalto após a explosão da carreta-tanque bitrem, carregada com 35 mil litros de gasolina da rede de postos Gentil. O que levou o motorista a perder o controle na segunda curva e tombar o moderno Mercedes Benz Actros, que puxava o tanque-bitrem? Sem respostas.  

Falando assim, em três parágrafos, parece reducionismo barato, perto do tamanho da tragédia registrada no local. Só quem esteve lá consegue entender. Aliás, jornalista que se preza, não deixa de ir ao cenário de casos como esse, que costumam entrar para a história. 
Foto: Alex Ferreira - Carreta transportava 35 mil litros de gasolina; carga explodiu após o tombamento


A empresa do ramo varejista de combustíveis, já foi multada em R$ 19 mil por danos ambientais visíveis – queima de vegetação em área de preservação – e pode ser penalizada, ainda a ressarcir danos causados morais e materiais a terceiros e danos ambientais profundos – se resíduos tiverem atingindo mananciais existentes na área.  

Por falar em presença no local, chamam a atenção duas situações. Primeiro, o show de imagens que vieram do palco tragédia, trazidas por pessoas que lá estavam na hora do acidente. 

É o novo tempo da comunicação. O fato, pela primeira vez, é registrado em tempo real via smartphone. Uma das vítimas sobreviventes do Fiesta, um dos carros apanhados pela cascata de fogo, fez um dos vídeos mais marcantes. O plano-sequência, sem cortes, segue no link abaixo.  http://youtu.be/EGico72imCg

Em uma tarde de sábado com notícias rotineiras, jornalistas foram apanhados de surpresa, mas ainda assim houve registros, como o do repórter Welington Fred, da Rádio Itatiaia, que fazia entradas ao vivo, do local, já por volta das 16h20, menos de uma hora após o ocorrido.  

Às 18h20 a notícia estava no site do Diário do Aço, com atualização dos nomes de todas as vítimas. E estava lá, fundamentalmente, pelo esforço do Igor Reis, estagiário da editoria de esportes, que cobria um evento na Usipa, abandonou a sua pauta e foi cobrir o acidente. Ufa!, ainda bem que surgem novos jornalistas por aí.  
Chevrolet Cruze, apanhado pela "cascata de fogo" que desceu pela ladeira após a explosão da carreta 

Nos tempos atuais, poucos vão aos locais dos fatos e a maioria copia. Até os erros de apuração são replicados e não corrigidos posteriormente, mesmo quando a fonte original faz os reparos. 

Consegui os nomes das pessoas por volta das 17h30, quando voltava de Timóteo e passei pelo local da tragédia. O sargento da Polícia Militar Rodoviária, José Osmar, acabava de chegar ao local com a relação dos nomes, dos sobreviventes e dos mortos. A essa hora a maioria dos colegas já havia voltado para as redações, de onde abasteceram emissoras e portais noticiosos.  

Por fim, outro aspecto que chama a atenção nesse e outros episódios de grande repercussão é a enxurrada de comentários que as pessoas fazem sobre os fatos, nas mídias sociais. Já passou a hora de alguém começar a ser responsabilizado pelo que fala. Em momento de dor extrema, muitas pessoas, sem saber do como e do porquê das coisas, no conforto de suas poltronas, soltam julgamentos absurdos sobre as pessoas envolvidas em acidentes.  

Responsabilizam, condenam, sentenciam, sem o menor pudor, não se importando com a dor das famílias de quem perdeu a vida ou bens materiais que demoraram para conquistar. A internet não pode continuar a ser uma terra de ninguém.  É preciso ter filtros dessa barbárie pelo menos nos veículos de comunicação online. Ou, então, que se responsabilize quem aprova tal selvageria.

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